quarta-feira, 30 de julho de 2014

Se...

E se o tempo num repente cortar a sorte
Espada que existe,
Se a terra reclamar, em pó se desfizer
A matéria.
Se o tempo mudar o vento norte
E a morte cortar só por cortar o entardecer
E aí diz, de que vale o crer…

Se uma força invisível comanda a vida
Se terrenos nossos passos são moinhos
De Mós toscas em estilhaços.
De que vale lágrimas em cascata
Palavras surdas e fracas
De que vale.

E se o tempo da colheita então cessar
Tudo, porque olvidámos semear
Será que noutra vida a reboque
No ressurgir nos iremos encontrar.



terça-feira, 29 de julho de 2014

Sina...

O porquê dos porquês numa questão vadia
Esperança contida na tarde vazia,
A base instalada na vaga justiça
Candeia singela de uma cor mortiça.

O porquê do amor num dia de vento
Da dor instalada no corpo dormente
Ou da certeza que roí, estranho tormento!
Nas horas foscas por um sol demente.

Que queima no branco do casario
Alentejo em pranto gemendo p`lo frio
E aquela sombra no banco da praça,
Traz à memória ténue barcaça.

Onde o sonho contido se atreve a remar
A brincar aos índios, flechas de matar…
Quem dera no virar da esquina
A velhice grata fosse a minha sina.


sábado, 26 de julho de 2014

Fim de tarde...

Descansaste o olhar em mim,
Carência que afogaste…
No brilho dos meus cabelos,
Que o vento teima em ondular.
Sonolento o fim
Aconchegou-se, não reparaste,
Nos minutos apressados
Que teimaram em galopar.

A brisa anunciou
Que a tarde terminou.
Os meus cabelos branquearam
Dos teus olhos então brotou.

Uma saudade temporã.




quarta-feira, 16 de julho de 2014

A minha Pena... Décimas.

(Mote)

Caprichosa, a minha Pena.
O meu jeito de versejar.
Por vezes é cantilena.
Enrola e até sabe, amar.

Estranha sina é ser poeta.
Penso comigo em silêncio.
Ao escrever chego a ter frio,
Sem que a porta esteja aberta…
Muitas vezes é soberba!
Ou então: modo de vida.
Outras: estado de alma.
Pois num verso, embriagado,
está o ego, inebriado.
Caprichosa, a minha pena!

Martírio…. Por dias a fio!
De olhos fixos se mantém.
É de todos e ninguém.
É água solta no rio…
Sozinha … até perde o brio.
Ao olhar… olhos mortiços.
No regaço… leva abraços.
A quem da vida está cansado.
É altivez ou simples fado:
O meu jeito de versejar.

É mentira… ou é verdade.
É loucura em contramão.
Por vezes é encontrão.
Noutras… Leviandade.
Juro… quase sempre é vaidade!
Corre solta, entre as veias.
Pode ser pernas sem meias,
onde faltam os sapatos.
Gritarias… espalhafatos.
Por vezes é cantilena!

Tudo isto num poema:
Eu coloco a meu prazer.
Versos… Eu sei fazer:
Como quem reza novena!
Sinto e chego a ter pena…
Deste dom que Deus me deu.
Pedinte…ou camafeu.
Tosco altar, idolatrado.
O meu cunho é afiado.
Enrola e até sabe, amar!






Defeito...

Serás Verbo no castrar do sentido?
No limite imposto pelo seio
Onde resguardas a loucura
Enunciação paralisada pelo veto
Que assombra na alta madrugada…

Serás Homem no sentido da palavra
Espécie elevada a ´´Maior``
Pela força invisível aos terrenos
Alada ideia ´´Criador!``

Certeza absoluta, mas caduca
Por maior o saber que olvidemos
Na ganancia que gera imperfeição.

Serás tudo, na dor que me acompanha
Quem dera um mundo perfeito
E a sede não passasse de artimanha
Fissura erradicada por defeito.






terça-feira, 15 de julho de 2014

Um livro que fala de e para o amor.


Por ora pode ser adquirido através de mim ou  na Livraria Onlin da Editora
em breve deixarei a lista de outros pontos de venda.

                                              http://www.bubok.pt/livros/8429/Estranha-Paixao

Perdão...

Peço silêncio pelos teus olhos quando gritam
- Amor…
Que se calem os rios, os pássaros, que os dias se escondam
Na penumbra que a noite traz estampada na lua
Que se calem as gotas de chuva e uma mulher nua
Silhueta imaginária, o eco da sua voz
Presságio insidioso e atroz
Peço silêncio por favor.

Não vá o tecto do mundo ruir
Nos soluços descabidos
Não vão ao teu lado emergir
Dunas que engolem gemidos.

Peço silêncio pelos teus olhos quando gritam
E escondem em delírio o teu coração vadio
Que se calem as pedras da calçada, sorriam
As ombreiras das portas, o vazio,

Seja por fim engolido no teu grito de amor
Tudo o que brilha ao sol traz no seio calor
Peço perdão à vida
Por ser curta e descabida, por ser vencida
Por um olhar castrador.



segunda-feira, 14 de julho de 2014

Era eu uma criança...

Décima com que participei no II Encontro de Poetas Populares de Vila Viçosa, tendo como mote uma quadra do Poeta Popular José António das Mercês.
Foi um dia muito bonito onde a poesia popular brilhou nas rimas de poetas de mão cheia, gente habituada ao sol escaldante do Alentejo e que retrata nas suas rimas o dia-a-dia desta terra. O mais jovem de todos nós com a bonita idade de 94 anos, o mestre José Salgueiro.


Onde está a liberdade
Que os Capitães conquistaram?
Recordamos com saudade,
O que já nos tiraram… ( José António das Mercês )

Era eu uma criança
Da vida pouco previa
Aos meus olhos luzidia
Nasceu a confiança.
Fraternidade e mudança
Cravos rubros igualdade,
Desde o campo à cidade
Entrou p`la madrugada.
Trouxe no peito a enxada
Onde está a liberdade…

Onde estão ceifas de esperança
Onde estão velhos soldados,
Camponeses embriagados 
Em Abril e sua herança.
Onde está a confiança
No meu país, sonho belo,
Abril lindo novelo
Tecido em trovas fartas.
Onde estão as longas asas
Que os capitães conquistaram…

Do Zeca sua palavra
A bitola dos poetas
Relembro tantas conversas,
As lágrimas de alegria.
Com os velhos de outra era,
Papoilas na primavera!
E dos bandos de gaiatos
Soltos de amarras e cintos
Por entre sonhos famintos,
Recordamos com saudade.

Alentejo berço da gente
Meu campo de trigo oiro
Do país farto tesoiro,
Estrela guia reluzente.
Traz ao nosso presente
O crer tingido de barro,
A esperança de um chaparro
Que no montado cresce,
Nas suas raízes renasce
O que já nos tiraram.




quinta-feira, 10 de julho de 2014

Amores perfeitos...

Olhas embriagado o canteiro que ondula ao vento
Narinas dilatadas, êxtase dos sentidos
Vermelho rubro, amarelo, carmim, azul turquesa
Molhas os lábios e sentes o sabor a framboesa
Embarcas num gesto a colheita que te espera

Suavemente
Deslizas a mão trémula pela orla do canteiro
Tocando piano nas pétalas vermelhas
Que o orvalho da manhã deixou vistosas

Pára, fixando a bela flor
Rubra, pétala de seda que desliza docemente
E cai a teus pés
Enleias as mãos na delicadeza 
Num gesto dolente abeiraste dela
Os teus lábios tocam o suave cetim
Por fim num gesto morno
Colhes uma a uma as flores
Desse canteiro atrevido
Enroscaste sobre ti mesmo

Acabaste de colher um ramo de amores-perfeitos…






quarta-feira, 9 de julho de 2014

Beija-Flor…

Ao chegar a tua voz na calada da noite
Descuido impertinencia que a lembrança traz.
Incúria descabida no agora tanto faz,
Ao regressar a tua voz no meu ego um açoite.

E se o tempo da colheita já passou intransigente,
E se o crer esmiuçado no agora um presente.
Desassossego arrancado ao outrora docemente,
E se o tempo da colheita meu amor se evaporou…

Ao chegar a tua voz com a doçura do amor,
Confesso que na noite de repente se fez dia.
E que o querer é moinha quem diria!
Ao chegar a tua voz junto a mim um beija-flor.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Trama...

Utopias. Indago a cada dia, cada passo
Nos meus olhos a busca que intento. Feliz
É a sombra que desconhece fracasso
Os pássaros que brincam em voo que perdiz.

Que o sol reinará, na penumbra o compasso
Da noite em que a lua fogosa desdiz
Ai como o pensamento pode ser devasso
Como a saudade é voluptuosa meretriz.

Ai como eu sou uma gaiata travessa
Recordar em sonhos, o brilho maroto
Ai como corro pela planície em chama.

Como danço e rodopio alheia ao drama
Que no peito ateia ao pensar no compasso
Que a razão inventa em miúda trama…

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Estado de Alma...

Pergunto ao sol por entre as nuvens
porque me dispo de sonhos.
Vaticínio esconjuntado a um estado de alma.
Perco ambições a cada dia que passa.

Estado de alma, modo de vida, ou o negro frio,
e derrotista de um mundo em abolição.
Tudo corre, tudo gira em contramão,
até os olhares se perdem num rio
onde o sal surripiado às lágrimas,
Morre de míngua e de frio!

Pergunto ao sol por entre as nuvens
o teu nome, liberdade de acreditar,
sonhar e vencer os meus demónios…
Como são frios os raios que iluminam a terra,
ou serei eu que morri em vida?

E aí sim, a explicação,
porque tudo passa sem ficar,
porque foge a ilusão,
O meu direito a sonhar…




quarta-feira, 2 de julho de 2014

Musa...

Eu, poeta me confesso num padre-nosso abreviado...
Sou um pouco tresloucada, acredito no amor.
Do medo tenho pavor, a sete pés do rancor
fujo por campo lavrado.
De olhos postos no céu...
Outras vezes pelo barro...
Vou andando em contramão, aqui e ali colho uma flor...
Que a minha insensatez colhe do fundo de um tarro!

Eu, poeta me confesso a quem me vê desnuda.
Tenho dias enviesados, tal como toda a gente.
Procuro na terra musa que me diga e fale alto:
Não te arrastes pela vida, não vale o espalhafato.
Vejam bem para meu fadário chega em jeito de lua cheia!
De mansinho pela noite ou então na tarde calma.
De roupagem a miragem, um oásis no deserto.
Por vezes a céu aberto dá-me forte abanão!
Dou por mim, corpo no chão...
Num espojinho intricado, para mal dos meus pecados:
Não percebo patavina. Esta musa tão traquina
que me sobe à cabeça, fala baixinho, sussurra:

Tu poeta te confessas. Diz-me lá o que isso muda?

Nessa hora tresloucada dou por mim a meditar.
Triste musa malfadada. Como é triste o teu falar!

Eu, poeta me confesso mas o credo não vou rezar.
Esperarei pelo sonho de um oásis encontrar...
E aí; musa maldita tens que te por a pau.
Deixarás de ditar regra... No mar uma outra nau.




Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo