sábado, 11 de julho de 2015

Tu e eu...

No estado contemplativo em que me encontro,
as respostas tardam em chegar!
Nada acontece por acaso,
então o porquê de questionar,
uma breve colisão.
 Cismático é o pensamento irreverente.
Tal como a saudade em escombros!

Observo os teus passos!
Pisam as pedras da calçada onde paira a solidão.
Observo o branquear dos cabelos, o teu rosto cansado,
revejo-me em cada fio de cabelo. Em cada franzir de testa.
Esporádicas as trocas de olhar, que não o são!
Contesto o acaso de uma noite de luar.
E o brilho do sol ao cair da tarde.
Contesto um dia de primavera tão cansado!
As mãos teimaram e a moinha recuou,
para logo se instalar.

Absorta na sorte e na quietude da noite,
rogo por mim e por ti, quem sabe rogo pelo infinito.
Há muito aceitei como castigo o silêncio!
E a passividade dos dias, então?
Porque me assola o pensamento,
 com uma estória de encantar.
Onde tu e eu fomos actores de uma luzerna ao luar.


Areia...

Não sei… Mas sei!
Areia em contradição que aflora
todos os bobos da corte…
Não sei… Mas sei!
Osso duro de roer!
Assim… destaca a concepção ao metro,
tão em voga!
Não sei… mas sei!
Que as palavras são flechas soltas na roda.
E as ideias não passam de alambiques,
onde as bebedeiras se saciam!
Todas as que me escorrem pelos dedos,
nas horas em que questiono. Porquê?
Se o mexilhão morre na praia,
porque se eleva o que não é,
e de areia se inunda o estaminé!

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Só se deixa despir quem quer...

E agora? Cai o carmo e a trindade
Num padre-nosso a preceito.
Tudo porque me ´´despistes``!

Sim: é para ti a conversa.
São os filhos gerados na penumbra?
Na luz mortiça da vergonha.
Serão paridos entre paredes?
Amedrontados.
Ou, só acontece a alguns?

E agora? A procissão vai no adro.
Aos pés da cruz a vida!
Maria Madalena a santa perdida.

Sim: é para ti a conversa.
Que me ´´despistes`` com os olhos,
da escuridão!
São os pecados caixa de pandora.
E a virtude trocados!
Em mente de breu aguado!

E agora? Cai o carmo e a trindade  
no obscurantismo saloio!
Teme a claridade da mente liberta!
Da retórica faz coberta.
De estopa a pano-cru
A diferença é premente.
É para ti a conversa.
Só se deixa despir quem quer,
mas disso não sabes tu!






domingo, 5 de julho de 2015

Despe-me lentamente...

 Tem sempre uma palavra a dizer o poeta!
E pretendo que me dispas. Fá-lo com estilo,
desabotoa cada botão em destreza,
mas que a calma seja o pronuncio de além.

Tenho a ultima palavra, numa alcova de luar!
Quero lá saber se o sal se esvai,
se as únicas gotículas que conheço são as minhas!

Quer lá saber o poeta, do mel na voz,
se o quer na ponta dos dedos.
Ou do arrepio, se por entre os lábios
o mosto maduro é desejo e arrepia caminho.

Tem uma palavra a dizer o poeta.
Ou então… Todos os poemas de amor
serão cisco sem tempo.

Despe-me, atreve-te ao limite:
como me atrevo e alicio a tua fraqueza.
Desliza por entre os meus planaltos
enquanto me sacio nos teus.

Mas tem em conta que tudo me é permitido,
nas palavras que invento.
Matar, amar, roubar, mendigar,
sonhar, mas sobretudo excitar.
Até penso esquecer que sou gente,
pobre indigente, acho-me albatroz em alto mar!
Por isso atreve-te e despe-me lentamente.

Ao longe numa clareira onde a terra é coberta,
e as estrelas serão telhado deslumbrado.
O meu corpo jaz! Vê bem :serei o desatino
na tua mente. E nas cinzas em que então me tornarei,
bailam em  faúlhas aos teus olhos.

E mesmo assim: a última palavra será minha!



sexta-feira, 3 de julho de 2015

Atrevimento...

Se eu pisasse um trilho fácil, dançaria ao luar,
gritava, tenho tanto p`ra jogar.
Elevaria aos píncaros aquilo que sou
Para depressa me estender ao comprido,
ao perguntar ao espelho: que restou?

A direito,
sem modéstia ou falsa virtude,
piso com certeza todas as pedras da calçada.
Por vezes sangram-me os pés,
enfio a cabeça na areia.
Também me estatelo ao comprido,
sou assim: chaparro assumido!

E um dia: num tempo que não sei,
de um ano que não viverei,
todos os meus versos cairão ao chão,
e brotarão margaridas!

Vaidade desmedida que me assola,
consola, e fala baixinho:
sê tu, descalça de arabescos,
no atrevimento está o sonho.

E como todos os sonhos são fruto do pensamento
Escrevo versos e componho a minha mortalha ao vento.
E como o vento varre a planície nas noites de luar
Tenho tanto que aprender noutro tanto a desbravar.




quarta-feira, 1 de julho de 2015

Não seria eu por entre nada...

Se um dia escrever num poema: nada.
Estarão todos os meus nadas confinados
aos confins do impossível, e desvairada
jogarei palavras como se fossem dados.

Matarei o raciocínio na fria madrugada.
E a reflexão só será pretexto adiado.
Não passarei de alma deslumbrada,
saltitando em redor do meu pecado.

Até do nada faço anseio, triste fado!
E aos meus olhos: todos os nadas são luz!
Ou acaba por morrer aquilo que seduz.

Não seria eu, na facilidade que conduz
ao adorno. Mas se o nada é engraçado,
porque teimo um registo arriscado…




No silêncio...

Morrerei no silêncio.
Quem sabe:
calarei na garganta um grito aflito.
Uma nota singela em clave!
Calarei na garganta o sentido
do meu olhar aguado.
Morrerei no silêncio
de uma madrugada.
Fingirei que não é nada!
Quem sabe me oiças,
me adivinhes mesmo calada.
Morrerei no silêncio,
e a minha boca fechada:
gritará sofregamente!
A minha vontade esfaimada.
Alma desfolhada
de um cacho em flor!
Gritarei no silêncio
a palavra amor.
Morrerei sem saber
se o grito ouviste.
Morrerei a dizer
meu amor tu não viste!

https://youtu.be/-8kCwrL5SHg



Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo