terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Pobre coitado…

(Mote)
Mas que coisa tão esquisita!
Fala…fala… só por falar!
Acaso julga que a dita…
Cria asas, e vai voar.

O homem está perdido!
Será que ele quer ser actor?
Já que entra vestido a rigor…
Sempre muito empedernido.
 Solta um rouco bramido…
Bem no meio do palanque.
Tece ideias sem arranque.
Juro: eu não tenho paciência.
Para tanta maledicência.
Mas que coisa tão, esquisita!

Opina a torto e a eito…
 Até de cor e salteado.
Só bate. O pobre coitado!
Será que é delírio… ou é jeito?
Se calhar…. Pode ser defeito.
Malha em tudo por prazer.
Só que no meu entender:
Até…. Podia ter razão.
Não fosse, volúvel, a questão:
É falar… só por falar…

A deixa cheira a fastio!
Tudo está no mesmo saco.
Mas o discurso é tão fraco.
Que eu acho que está com frio!
Não encontro serventia,
para tão enrolada, azia.
Que querem, eu sou assim.
Da maldade faço um festim.
Da barrela faço, festa.
E da festa faço, besta.
Acaso julga que a dita…

É sorte deitada a monte…
Criatura tenha tento.
Separe a chuva do vento.
Sei que nem tudo é brilhante.
Mas há por aí muita gente…
Que até de olhos fechados.
Soltam do peito em brados.
Uma pobre rima perneta.
Toma a forma de um cometa…
Cria asas, e vai voar…





quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Crenças...

Estou tão cansada!
Gostava de ser considerada,
equilibrada.
De acreditar no passarinho…
Que as vespas também podem produzir mel…
E que as moscas, vão além do zum-zum.

Em vez disso:
Acredito que as abelhas,
 morrem, à ferroada!
Que as moscas,
 só servem para incomodar!
E que os passarinhos,
 também morrem!
 Se não souberem voar.

Estou tão cansada!
Se o mundo não estivesse,
 de pernas para o ar.
Fechava os olhos ao inútil.
Até mesmo ao fútil.

Estou tão cansada!
Vivo de cara fechada.
A viseira só serve,
o interesse de alguns…
Mesmo que saiba:

 Na balança das crenças...
Sou, desequilibrada!




quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

O beijo de Judas...

Como posso ter certezas se até, tu…
A maior entre as restantes, aplicaste,
o  beijo de Judas no alicerce nu.
Abdicaste do amor. Assim derrubaste…

O pedestal… floresta virgem e cru.
Esculpido naquilo que renegaste.
Como ter certeza, se a luz pode ser véu.
Tapa com mestria o cálice onde bebeste.

Deixa as certezas ao tempo e à morte…
Que rolem em terra casta, hilariantes.
Nada é o que parece, não… como dantes.

No tempo das amoras e dos amantes.
Surtiu a laje fria. Dela, alimento a sorte.
Viaja sozinha… nas asas do vento norte.


Equilíbrio...

Todas as certezas são baralhos de cartas.
A um pequeno sopro, deitadas por terra.
São todas as certezas afiadas navalhas.
Rasgam a medula, enquanto a crença erra.

Por isso de que serve, acender fornalhas?
Se a vida é suma. A várzea acaba na serra.  
Ao riacho segue o rio e no mar abre alas…
Por entre a monção se trava a guerra.

Não sei de nada, nem sequer de mim!
Não sei… será metáfora que rendilho,   
por entre um abandonado, jardim.

Eu sei, é trave bichada e ainda assim:
Elevada em ombros. Parco andarilho,
onde me equilibro por temer o fim.


segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Sóbria esperança...

Desenha (se) Ilusão, num acto de amor maior.
Desengano então seria, ou incerta valentia.
De lés a lés a revolta… inunda a noite o clamor…
Parcas horas, sonho altivo… Pelo contrário, agonia!

No traço letra a letra, quimeras em ré menor.
Dormiria ao relento Mas que fraca ventania!
Este meu acto inglório, suspenso por frouxa cor.
Até sacode os sentidos enquanto não surge o dia…

Em que todas as palavras são nuvem aventureira.
Ambição passageira de pobre crente imperfeita.
Até sabendo que a dor, sempre… Erguerá barreira!

Nem assim a ilusão se transforma em bandeira.
É a minha alma vadia, frugal e se completa…
Em sóbria esperança… Pois é a Terra quem gira!


segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Curva...

Estou perdida!
Presa; no que teima em ficar.
E no futuro por desbravar.
O presente é água fria!
Uma lagoa quase vazia.
Ao leito inóspito…pouco restou!
Floco de neve, vagueando sem destino…
Na demora da estrela, prometida.

E tu… que me olhas à distância:
Será que me vês, surreal?
Ou aos teus olhos serei apenas, areal?
Muita uva e pouca parra;
muito vento e pouca chuva;
sombra sem sol que lhe valha.
Repara, mesmo perdida…
Não temo… aquela curva.


quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

O sol do teu olhar…

Fugaz!
És tu… Meu amor a inventar, estrela da manhã.
Labirinto, onde os sentidos se perdem.
Olhos de terra, bagos de romã madura!
És tu!...

A sombra que procuro, quando ando por aí!...
O desejo de fazer, de ir além…
Onde o dia possa ter, significado.

Veloz…Sou eu… com as palavras!
Nuances esverdeadas, até a sombra.
Que segue empurrada; pelo sol do teu olhar…

Peço ao sonho, mesmo fugaz…
A promessa de comandar a alma.
Mesmo que o tempo passe de fugida…
Já que os teus olhos são pirilampos.
Nas noites sem luar!


Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo