domingo, 21 de julho de 2013

O grito



Se percebesse como o grito que retraio
No fundo da garganta desgastada
Se disfarça de malandro e catraio
Nas horas em que me sinto agoniada

Por um não sê quê que tolhe mas que raio
Para a frente ou p`ra trás é a vida atribulada
Parece relâmpago deslizando em pára raio
Juro por deus que às vezes estou esgotada

Assim busco e não entendo, a estranheza
Na minha ladainha cedida simplesmente 
Ao que vejo, ao que sinto, a correnteza

Se assemelha à noção que flutua inocente
Num lago sem peixes de sonho e leveza
Abafado a medo num carma delirante.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Noite




Que certeza se esvai quando a melancolia aflora
Não há dias bonitos mão na mão estrada fora
Faca de dois gumes o cómodo da certeza
Amanhã, serei eu e mais eu na correnteza

Escusado o meditar na noite quieta
Igual aos dias e às tardes a maré certa
Como certo o vazio em redor
Trás as sombras da noite, maior
É a saudade que agora desperta
No rosto e na alma um rasgo sem cor

Mas se não procuro p`lo sol que espero afinal
Se nos campos até o restolho aguarda
Pela maresia que trás a aurora
Indago então às pedras que rolam
A futilidade das lágrimas
que assolam
Enquanto o restolho lá fora segreda

À noite.
– Vai embala-lhe o sono, é ela que implora.

domingo, 14 de julho de 2013

Chuva



  Em debanda está a chuva implorou afeição
Ao vento gelado um pouco de atenção
Ainda lhe falou de sonho e desejo
Até lhe segredou em jeito de solfejo

Mas foi tanta a ventania que a algazarra sobeja
Arrasando de antemão com o que a chuva almeja
Irrigar vales e campos com um manto de paixão
Sonhando vejam bem levar o vento p`la mão

Ao vento resmungão não importa quem vier
Arrasa à passagem e a chuva não entende
Leva na sua ira desde a mais vistosa flor
Ao telhado de uma casa tanto faz que desabe

Não há vento que perdure nem sorte que não termine
Só o vento desconhece o que é querer água e não a ter
Depressa chega o sol que põe ordem no ardil
Um lindo arco-íris que da chuva fez Abril.

domingo, 7 de julho de 2013

Riqueza




A força de um degrau pode ser magia
Em momentos difíceis assemelha razia
Subir um de cada vez para não tropeçar
Ao descer de empurrão por tino não mostrar

Subi tanto na vida que me senti rainha.
Logo mais adiante na descida fui fuinha
Num passo à frente o atrás logo trás
Parece remoinho em lagoa, tanto faz

É o eixo da vida o subir e o descer
É muito mais feliz quem assim o entender
Na passagem nada é meu, tudo é furtado à lida
Riqueza que prometeu pela terra é comida.

Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo