Nos lábios fechados entoa o grito
Da massa cinzenta em ruínas
Entoa o clamor de bocas famintas
Ali ao virar da esquina.
Nas caras sombrias retrato de um povo
Reflecte agonia, futuro indeciso
São tantos os filhos, os netos e o medo
De um concreto, incerto e escuro penedo.
Nos ombros caídos o olhar agoniza
Barriga vazia colada às costas
Sapatilhas rotas, roupa desbotada
Recordações adiadas, tempos de criança
Ali ao virar da esquina.
Repetem-se os tempos, Portugal inglório
São negros momentos, repete o velório
De uma crise profunda e a nuca do povo
Fervilha no terror de um estado novo
Portugal de um povo.
Pega na cartilha toma o destino
Expira-se o tempo e no desatino
Da memória recente ferve de vida
A vitória vencida na história marcada
Quando a fome é renhida cava-se a estrada.
Leva de vencida pega na enxada
Abril é bitola é pomba largada
Nos céus azulados é triunfo dobrado
Portugal de um povo tão mal governado.
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