terça-feira, 8 de março de 2011

Não me castrem

Não me ofereçam flores.
Nem chamem pelo nome
Chamem-me mulher
Que vai pr`á guerra
Mulher que pare
Que mata a fome
Deixando de comer
Ninguém me dê sorrisos
Ofereçam-me liberdade
Tirem-me esta canga
Que parte a alma
Não me olhem
Não sou objecto
Não me matem
Porque amei
Não me castrem
Porque ousei
Olhar mais alto

Que o mundo que me fez mulher.

sábado, 5 de março de 2011

Não sei...

Não sei…

Não sei, se será desígnio sem aparência
A letargia que me aflige em dias módicos
Rebusco motivos para a sonolência
Mas fogem pelos escaparates coloridos

Que tento a todo o custo inventar, pertinência
Que se acerca e me diz são comandos
Assim visto de contornos a esquiva essência
Que me visita nos fins de tarde em versos

Que tento inventar para cativar
Todas as aparências que finjo não ver
Dia sim, dia não, as horas querem vingar
Por entre a rua sem passos a contar

Não sei, se é desígnio esta existência
Que espera sem desespero o calor
Que o Verão me trará, estranho clamor

Que me visita nas horas de ausência
Apetece-me fugir da constância
Encarar a sorte que me estende os braços

quinta-feira, 3 de março de 2011

Lançamento do livro "Por um sorriso"

Aponte na sua agenda, mesmo que não goste de poesia, o lucro integral deste livro reverte a favor da Ajuda de Berço, os custos de edição do mesmo são suportados na integra pelos autores numa parceria com a editora.
Local: Biblioteca Orlando Ribeiro - Lisboa
Hora: Sábado, 30 de Abril de 2011 17:00
Eu vou lá estar e espero por si...

Solto para o alto

Solto para o alto o acreditar
O seu peso é medonho
Nas horas mortas, ao deitar
Solto para o alto enquanto olho
Um espinho no peito
O sangue que jorra
Um medo a jeito
Estranha modorra
Indolência sem rosto
Um peso que afunda
E traz átona o gosto
De uma palavra muda

Solto para o alto mas volto atrás
É assim a vida, a alma humana
Pensa num antes e é incapaz
De soterrar, não me chamem insana…

Onde estás

Onde estás
O grito fala a ausência
Parca em reticência
Onde estás
Pergunto ao dia que nasce
À água que corre da fonte
Á cegonha que voa livre
À giesta em campo agreste
Onde estás
Pergunto à alma dos mortos
À dor que curva as costas
À enxada que caleja
Aos pés que estão doridos
Àqueles olhos sofridos
À fome que mata a esperança
Onde estás

Chamo por ti noite e dia
Igualdade é sonho antigo
Está ausente, é razia
Em estômago de pobre aflito.

Porque se dão nozes

Porque se calaram as vozes
Que copiosamente assolaram
Os cansaços devassaram o olhar
...As ideias parece que hibernaram
Porque se dão nozes
A quem não tem dentes p`ra trincar

Por carreiros caminharam peregrinos
Que motivos os levaram a sondar
O fundo da existência inaudita
A pátria renegaram ao virar
A cabeça aos sonhos e destinos
De criança que olha a estrada e acredita

Ter nas mãos uma terra a desbravar
Os ventos ao sul eram velozes
Com o olhar a vida desbravaram
E agora que as costas já curvaram
Curvam-se os desejos de liberdades
Escondidos nas mentes, ansiedades
São o gritos mais ouvidos, um germinar

Que desponta numa manhã fria
Com as vozes de mil galos a cantar
Quem diria, quem diria que nascia
Esta vontade tresloucada de afirmar

Que o crer é relógio biológico
Pode estar cativo, até amordaçado
Mas um dia vira bicho enjaulado
Rebenta amarras com um vento ciclónico...

quarta-feira, 2 de março de 2011

Pontas

Tento prender as pontas da vida
Deslaçadas por percalços, baixios
Aconchego nos braços bravios
Da sorte.

Lento prender que me traz razia
Me sufoca a alma, me rasga o ventre
Me faz sentir insolente
Na morte.

De um sonho, uma meta ao longe
Um calor enganando o frio
Um tapume escondendo o vazio
Sem norte.

Tento prender as pontas de mim
Aquelas que desataram enganos
Foram meus por tantos anos
Passaporte.


Para o infinito
Quem sabe a solidão
Não engano nem minto
Que me traz consolação.

Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo