terça-feira, 2 de setembro de 2014

Porém...

Se nem sequer sei quem sou
Estranha demanda em que vivo
Serei o pó que restou
De um dia intempestivo.

Como queres que pressinta quem és
Se passas sem deixar rasto.
Repara no mar as marés
Deixam na praia sargaço.

Inquiro as sombras do chão
Os teus passos onde vão,
Respondem as nuvens no céu.
- Perdidos em contramão…

Pergunta a sorte macabra
Por nós dois em dia sim,
Logo a noite informa.
- Perdidos até p`ra mim.

Como vês o azeite e a água,
São desalinho constante…
Porém a ponta do véu
Está no sol a levante.





Cinzas...

Sei que no teu peito arde a fogueira do ciúme
Na pacatez emocional que escondes do dia,
Queima em labaredas a memória do meu corpo,
Onde a confiança é fachada atribulada
Pelas evidências.

Vê bem.
A facilidade de atear as brasas,
A morrinha do medo.
Ou a incoerência dos meses.
Vê bem.
Só preciso de palavras escritas em contramão,

E do teu peito saltam as cinzas em aflição…

Cal...

A pedra se desfaz em pó
Alva brancura espelhada
Na lembrança de todos nós
Está uma parede caiada

Por entre o negro da veste
De uma velhinha trigueira
Escorre a cal que lava
A casa de qualquer peste

E nesse branco tão branco
Os meus olhos se deleitam
Por vezes até o pranto
Ao branco se entrelaça.
Saudade de uma cana-da-índia
Onde o pincel pendia,
De cá para lá em azáfama
A parede branca sorria.

E vejam bem a tal cal
Que acompanhou a velhinha
Na vida em cascata…
No dia de descer à terra
No seu ventre foi jogada.
E eu sei, sei porque senti,
As mãos da velhinha
Presas à cal em frenesim.
E eu chorei, chorei com pena de mim
Que hoje ignoro a cal
E o seu branco em festim.



quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Correnteza...

Ao contradizer as borboletas
Os sorrisos bonitos numa palavra crua,
Além de amores idílicos e poses de mulher nua.
Ao impugnar poesia de cordel
Palavras gentilmente jogadas
À vida em contramão.

Serei na minha imperfeição, isto ou aquilo.
Rameira despida de adorno
De jóias luzentes, brilho tosco.
Acima de tudo serei poeta de estrada,
Maltrapilho, até corcunda, jamais cega,
Pelo brilho das estrelas.

Ao contestar a facilidade
Que será de mim
Que será do meu tempo
Do frenesim, da vaidade.
A que engulo dias a fio
Por tudo o que ignoro.

Que será dos dias além morte
Da escrita e do regabofe
Onde soberbamente me afundo.

É tamanha a incerteza
Em que o dia me encontra
Seria fácil seguir a correnteza
E aí, aí tinha sonho de pouca monta.



sábado, 23 de agosto de 2014

Horas tardias...

Manda que espere o incerto
Sempre em desatino
Dúbio e controverso
Que até parece traquino.

Assim a sorte é ditada
Como baralho de cartas
Horas tardias, madrugada
Sentenças cruas e gastas.

Manda que aguarde
É de louco
Lenho que já não arde
Estranho sussurro rouco.

Como se a vida não corresse
O dia não seguisse a noite
Descrê que a morte vence
Tudo o que não se afoite.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Que perguntas...

Satisfaço a saudade na sorte macabra
De um raio de sol na madrugada
Numa gota de chuva, no piar do mocho
Sacio a sede na lembrança peada.
Pelo receio de ser, de ter, viver…

Que fazer… Sou assim e tu logo ali,
No virar da esquina que parece remoto.
Faço de mim ermita, um modesto monge.
Pergunto ao vento se me trará de longe,
O piar da coruja numa estrela cadente.
E aí quem sabe a minha alma murcha,
Se atreva a sorrir da vida demente.

Satisfaço a saudade de não sei o quê
Nas perguntas que faço.
Estranho porquê!
E no virar da esquina outro alguém como eu,
Que perguntas fará quando olha o céu.

sábado, 9 de agosto de 2014

Deixa-me dormir...

Alarido. Porquê?
Pergunto eu.
Se para trás deixaste
todos os sonhos,
que eram teus.
Despertaste,
razão que desconheço.
Apenas porque me tens, 
por posse.
Mente distorcida.

Já agora,
deixa-me dormir
deixa-me fingir
que me fui.

E tu. Esvaíste...


Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo