terça-feira, 17 de junho de 2014

Cadeira...

É tão deslavado e irrisório
O momento passageiro
Tudo é transitório
Infantil ou traiçoeiro.

Que levamos nós desta vida
Perguntei às pedras da rua
Somente ilusão se é fingida
Se o tempo é de corrida
Resposta nua e crua!

Por isso me sento amiúde
Numa cadeira de costas rotas
Não tem braços, não tem fundo
Mesmo assim pode comigo
Nem sequer o tempo ilude
Esta cadeira singela
Está defronte à janela
Do mundo, contemplação…
Até ponto de interrogação
São os pregos que a sustêm
Nesta era de aflição
Permaneço dias a fio
Nesta cadeira invisível
Que me ampara pela vida.
Perguntei às pedras da rua
Como vim aqui parar
Desconhecem a resposta
De na cadeira me sentar.





Então...

Não sei,
Porque me chega o eco dos fantasmas
Jogados em valeta de ambição
Porque teimo em recordar tempos passados
Remoinhos nos meus cabelos grisalhos
Ou então,
As velas de uma Nau Catrineta
Incerteza impávida mas serena.
Onde já ouvi esta cantilena.

Não sei,
Por entre este céu encoberto
Se olho de frente o passado
E o presente…
O futuro que promete?

Não sei,
Nos passos do velho
Aos meus olhos tão desfeito,
No voo dos pássaros
Nas suas asas, certeza.
Ao olhar o menino
Que me olha iludido.
Não sei.

Se faço bem em ser curiosa
Se roubo tempo ao tempo
Porém sei que sou desenvolta
Que escrevo pregos e rosas
Com facilidade vaidosa.

Então, que não sabes tu afinal.






terça-feira, 10 de junho de 2014

Corrupio...

Foge de mim a vontade de sorrir
Nas vezes comigo a sós
Pergunto ao branco das paredes
O que está por vir?
Vazios na resposta restam os choros
Do caliço aos meus pés!

Estranha admiração em corrupio
Comigo por dias a fio
O porquê da solidão, do encontrão.
Repreendo nessas horas alguma lágrima
Sei que não queres o meu pranto
Ou penso saber…

Curiosa a certeza, até clamor
Aventurança anunciada numa esperança fugidia
Certeza absoluta no branco das paredes, a razia.

Foge de mim a vontade de sorrir
Num silêncio que molesta, agride e corrói

Quebrado inutilmente por tudo aquilo que destrói.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Décimas… Os pombos na praça...

Felizes os pombos na praça
Numa dança sem igual
Cheios de vida e de graça
Alheios a vendaval.

Voa, voa, pombo belo
De um cinzento tão brilhante
Teu olhar é cativante
Ar sereno e singelo
Voa, voa, pombo belo
Leva nas asas plangor
Que trago no meio da dor
De um povo de rosto amargo.
Voando soltos no largo
Felizes dos pombos na praça.

Alegria das crianças
Em alegre brincadeira
Alheias a canseira
Descomplicam as andanças
Ensaiando contradanças
Querem os pombos tocar.
Nesse baile vem entrar
Com elas de riso solto
Passo certo desenvolto
Numa dança sem igual.

Volta ao tempo da romã
Das nozes e das amêndoas
Aos cortiços das abelhas
À pesca do achigã
À capa de fofa lã.
Com os pombos e as crianças
Entra já, sem reticências
Com vontade leve e sã
Os pombos pela manhã
Cheios de vida e de graça.

Voam em círculo fechado
Outras vezes mais aberto
Junto às nuvens ou mais perto
Sobrevoam o telhado.
Fico de olhar abismado
Pelo voo engalanado
Pelo riso adocicado
De sangue novo na guelra.
À solidão fazem guerra
Alheios a vendaval.




 Décimas…Meu choro de mão em mão.

Nos dias em que não te encontro
Indago a solidão
Em versos velhos transporto
Meu choro de mão em mão

Por que sou filha do nada
O meu ser é assombrado
Triste sina, triste Fado
Ao chegar da madrugada
Numa lua deslavada
Tal lágrima perdida
Que me leva de vencida
Quando assoma a nostalgia
Meu amor quem diria
Nos dias em que não te encontro

De mãos postas rogo ao Alto
Que me traga o teu sorriso
De tudo o que preciso
P`ra sair do sobressalto
É dum sonho azul-cobalto
Que me dê dias risonhos
Rosmaninho em fartos molhos
Nos teus olhos cor de mel,
P`lo toque da tua pele
Indago a solidão

Questiono até o tempo
P´la sorte em contra-mão
Ai jesus mas que aflição
De tanto dormir ao relento
Há muito esqueci alento
Anseio p`la luz do dia
Quem sabe traga ousadia
À alma que vagueia
Outras vezes se incendeia
Em versos velhos, transporto

Uma nesga de alento
Logo mais à tardinha
Numa chuva miudinha
Instigada pelo vento
Que me traga o momento
O teu beijo traiçoeiro
O teu rosto o teu cheiro
Num abraço apertado.
Retornaria ao passado
Meu choro de mão em mão.





segunda-feira, 2 de junho de 2014

Deserto

O que faço com o rodopio estrondoso
 Que os pensamentos motivam
Sempre que dou por mim a cismar

O que sou, o que fui, para onde
Me leva o dia, que será que esconde
A noite traiçoeira,
Só uma certeza brejeira…

Sou filha das pedras, como pai o barro
De madrinha a chuva, minha irmã a esteva
Bizarro parentesco, faz todo o sentido
Não me encaixo no contexto deste mundo iludido

Por mãe uma ribeira cheia de peixes vermelhos
Só assim entendo os pensamentos traiçoeiros
E se um dia me apaixonar pelo montado matreiro…
Que embala na sua sombra um velhinho sobreiro.

Aí sim, corro pela campina agreste
Finalmente gritarei. Sou eu …no campo a rodopiar
Sob o sol de Agosto, bebo água da fonte
E amanhã… amanhã volto a questionar.

O que sou, o que fui?

Um grão de areia num deserto de míngua!


Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo