domingo, 22 de maio de 2011

Essência


Retirei pequenas partículas da minha essência
 Com elas pensei fazer um rosário
Contei uma a uma, mas que grande fadário
Perdi-me na conta e por contingência
Rebolaram pelo chão, se escaparam da mão

Correram felizes por entre as linhas
De uma sebenta, sebenta da vida
A mais pequena e mais atrevida
Correu para a rua e chamou as vizinhas

Vieram as estrelas e algumas nuvens
Vieram as pedras e o pó barrento
Veio o Alentejo sempre pachorrento
Veio um sobreiro e veio a alma
De um povo faminto, rogando por calma
E eu, encostada a um canto estendi-me no chão

Por ali fiquei tentando apanhar
As minhas partículas sempre infernais
Saltaram correram, brincaram sem medo
No fim adormeceram, e eu em segredo
Puxei da sebenta, escrevi um poema
Desleixei gramática e até um fonema
Aconcheguei cada uma com leve doçura
Na mais pequena atei uma fita

Pela manhã ao acordarem
Voaram em versos pela vizinhança
Levaram amor e muito carinho
Alguma saudade e um grande beijinho.
E presa na fita foi uma promessa
Escreverei cada linha da minha sebenta
Com a alma liberta e com mente travessa.



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Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo