segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Em Janeiro...

Em Janeiro dispo-me de mim, aninhada
numa letargia muito minha, omito quem sou.
Silenciosamente, hiberno, enregelada,
falta-me o sol, toda eu ensopada em geada, hiberno.
O caricato disto tudo. O sol revive rebeldia.
Aí, olho com olhos de carneiro mal morto
os telhados, da minha janela, e questiono.
Porque são afinal, só telhados, podiam ser asas…
Deles, despencar o Verão. Como se tal fosse possível.

Logo o bom senso segreda, pára deixa a ladainha de lado.
Em Agosto enfiarás a cabeça na areia, sufocada pelo calor.
Olho o bom senso, como quem olha um alarve emproado.

Deixa que hiberne, como queres que renasça na primavera.
Sou e serei, árvore num descampado.
nem todos os telhados do mundo chegam para me salvar.
Ao cair, tal folha amarelecida.
abandono sem pena o galho que me susteve.
Sei que ao desfazer-me em pó na terra fértil.
Uma nova raiz se alimentará, e aí, será Primavera.
Por isso deixa que hiberne neste Janeiro húmido
Com ele hibernam os sonhos.
Hão-de florir em olhos de ´´Inferno``.
Que ao passar me deitará ao chão.

Desconhece que da terra vermelha, fui esculpida,
Numa tarde de Janeiro.


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