quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

O sol que não aparece...


Foste o melhor e o pior que aconteceu.
Um amor ao fim da tarde, luz fugidia.
Foste o ombro, a luzerna que venceu.
A dor de uma alma calma mas vazia.

Foste a chuva, a primavera em apogeu.
Uma palavra tua e tudo acontecia.
Então: onde foi que tudo se perdeu.
Se era a ilusão quem sempre vencia.

Estranha constatação que o sentir assola.
Nos dias não é quando tudo acontece.
Já que é o tempo quem oferta a esmola.

Enquanto cansado o sentir esmorece.
Quem dera ser palhaço de velha cartola.
Faria de ti o sol que não aparece.


segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Parábola...

Sobre o peito uma sombra! Onde está
o encantamento… era nada e prometeu.
Ser a noite, ser um fado, o que será…
Ser por breve instante um beijo seu.

Mas; que vida!… a escuridão aqui e acolá.
Uma sombra no pensamento é Orfeu.
É a noite anunciada, só o galo cantará,
a madrugada em que tudo se perdeu.

A parábola dos sentidos é matreira.
Enquanto a ilusão já se desvanece.
Tudo se ganha e se perde. Acontece!...

Nesta saudade vencida já adormece.
Um refrão que um dia foi, bandeira.
De uma história triste e passageira.




sábado, 20 de janeiro de 2018

Sempre que chamas por mim...

Deixo que o tempo apague a tua imagem.
Aquela: que a chuva deixa na vidraça.
No pensamento és nitida miragem.
E  até as lágrimas são nuvem que passa.

Já que o tempo é gélida moagem.
E as lembranças são arestas sem raça.
São as Mós!… São as portas de passagem…
Deixo sempre ao tempo a sua sentença.

De que vale a teimosia? Se és nada!
Ah! Como pode ser fria a noite escura.
Como até a água pode ser: secura!

Se insistes e chamas por mim… Loucura!
Não passas de uma esperança roubada.
Que sem saber se perdeu na estrada.


Uma sombra esquecida

Caminho numa vereda, agreste!...
Até o sol se apresenta, tímido.
Tudo se move e o chão sem veste.
Parece chorar um amor vencido.

Ai Alentejo!... Este vento que sente.
Percorre o montado como… zumbido.
Aqui e ali, eu juro, está presente:
Uma alma perdida num rio tingido.

Caminho por horas a fio e a aragem
é a companheira de todas as horas.
Leva os meus sonhos na cor das amoras.

Leva a saudade, algumas, demoras…
Enquanto eu levo como bagagem:
A sombra esquecida por entre a ramagem.




Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo