sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Meus Versos...

Peçam-me palavras meladas
Nos dias em que estou azeda
Peçam-me palavras pesadas
Quando estou leve, tal borboleta

Na leveza consigo ver
O peso da solidão
Consigo dizer não, não
De mel não vou escrever
Vou escrever sobre fel
Escrevendo a belo prazer
Nos dias em que estou pesada
Escrevo de forma anafada
O amor adocicado
Em novelas retratado
Que nada me diz nada é
Do que praia sem maré
Aos olhos de quem nos olha
Acredito que desfolha
A razão de tanto açúcar
Por isso eu mando ao ar
Palavras de aflição
Em dias sim, nos dias não
Escrevo com melado sabor
Vasculho todo o amor

Que os teus olhos querem ler
Sou do contra, está claro
Sou assim nada a fazer
Meus versos pendem em aro

Que me dá gozo escrever
 
 

Onde estás...

Onde estás…
Procuro no riso
Na brisa marinha
Instante conciso
No vento que vinha
Procuro na noite
Em hora ausente
Que um beijo se afoite
Enfim o presente
O vento me trouxe
Instante fugaz
Maresia doce
Momento incapaz
De roer a penumbra
Que me aconchega
Pergunto á sombra
Porque carrega
Pergunta roída
Bichada por dentro
Sem estrada batida
Se perde sem tempo.
Onde estás.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Pedaço de papel...

Um pedaço de papel que rola sem estrada
Amarrotado, pela chuva deslavado
Pelo vento ao trambolhões é levado
Um pedaço de papel, pouco mais que nada

Tento desenhar cada ruga cada olhar
Cada fio de cabelo caído sobre a testa
As nesgas de emoção que se abrem em fresta
O brilho do sorriso tento desenhar

Num pedaço de papel triste e enrugado
Está caído num fundo de gaveta
Ao seu lado uma caneta espreita
Espera, uma espera que o deixa amedrontado

Rabisco por fim num traço incerto
Começo pelo meio, deslizo a medo
Mas logo ali uma nuvem em segredo
Me fala sem medo de areias no deserto

Continuo o traço agora mais afoita
Perco a compostura e rabisco com raiva
Uma lágrima que cai no meio como seiva
Quietação, mas o perfil desponta

Por fim um retoque, a obra está pronta
Olho abismada dos dedos me saiu
Foram pingos de sangue que ninguém viu
É poema inacabado que agora se apronta

Vai sair airoso, andar de rua em rua
Saltitar nas flores e no teu olhar
Irá os teus lábios e os teus olhos beijar
E eu, eu fico aqui numa espera crua.

Que num dia qualquer, outro pedaço de papel
Me acene nacos de ilusão
Eu pegarei na caneta e escreverei, solidão.
O mel a esvair em vestes de burel.






quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Asfixia...

Na volúpia desgrenhada
Mente amorfa asfixiada
Pelos prazeres carnais
Que recolhe em bilhetes postais

Nas roupas que arranca
Como quem espeta tranca
No inferno evasivo
De sexo corrosivo

Lambuza a alma e o crer
Coage ao prazer
Amarfanha cada pedaço de pele
Que amassa em beijos de fel

Escorre por entre as pernas
Tremulas abertas em angustias
No debate a exaustão
Que cai submissa ao chão

Um soalho negro e podre
Num minuto quase explode
Deixa de ver e de ouvir
Reza baixinho a pedir

Sacia-te fera medonha
Que te escorra a peçonha
Para que possa fugir
Esquecer e ver ruir

A contemplação abrupta
Sexo de macaco bruto
Homem nauseabundo
Animal violento

Ela caminha meio morta
Foge por qualquer porta
Mas apontam-lhe o dedo
Olham-na tal um brinquedo…

Mulher da esquina, ou de casa
Vitima, animal sem asa
Senhora de bem, esposa
Ou mulher da rua leprosa

São vitimas em desvantagem
Do sexo, da libertinagem
Mentes que escorrem a libido
Em ódio húmido, desmedido


segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Razões...

Por trilho desconhecido
Cruzo com o que sou
Por vezes quero e não vou
Olho-me sem sentido
Apresso o passo, estilhaço
Numa esquina qualquer
Vejo lenha a arder
Não tem tempo não tem espaço
Arde em campo sachado
Crepúsculo ao anoitecer
As cinzas na terra cavada
Por fim se vão com o vento
Sem saber se foi o momento
De botar o pé na estrada

Por caminhos que nem eu sei
Canso-me logo ali
Vencida, ou então venci
Nas razões me aconcheguei
Razões saram mazelas
Mas desconheço o que são
Serão razões abanão
Que deitam ao chão colunas
Serão fúria, ou pedaços
De espuma desfeita em nada
Ventos na madrugada
Ou encobrir de cansaços

Em veredas aos ziguezagues
Passo por mim e não vejo
Que razões são realejo
Tocando velhas saudades
Sonhos do que não fui
Pedaços de nostalgia
Sem saber se é noite ou dia

Razão que desconhece razão
Será dor ou alegria
Será sonho fantasia
Ou a voz do coração
Será amor e paixão
Faúlhas em campo aberto
Será areia no deserto
Nada desfeito na mão

Perguntas sem ter resposta
Dão-me enorme abanão
Ferida que tirei a crosta
Deixando pingos no chão.





domingo, 23 de janeiro de 2011

Nadas...


Tentei falar com o nada, uma conversa de nada
Falei, falei, a alma desnudei, no fim bagatela
Reinou no silêncio de uma conversa aguada
 E a noite seguiu o percurso surda e singela

Ao virar costas, senti  na cara forte rajada
No peito senti  pequena  amolgadela
Virei a cabeça, cruzar de braços de uma assentada
E a noite seguiu e não viu  que deixou mazela

O nada voltou  pela manhã, o sol ainda raiou
Ao olhar o espelho uma ruga vincada segredou
Não converses com nadas, que nada se passou

Dei voltas e voltas, e a noite teimosa voltou
Vestida de gala num Inverno que tudo gelou
E a lembrança atracada veio com ela, e me abraçou.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Fadário...

Pergunto por vezes, como seria
Se o mundo girasse ao contrário
Se deixasse de haver fadário
Demando, e se acabasse a correria

Se esguios e precisos corressem os dias
E as noites dançassem ao som do mistério
Que envolve o fado ouvido em silêncio
Pergunto por vezes se alguém quereria

Fugir de uma sina, fugir de uma estrada
Virar as costas sem esperar nada
Olhar para trás por cima do ombro

Ouvir para sempre o som dos passos
Barulhento, fugindo a cansaços
Pergunto por vezes, o porquê do rombo.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Saudades...

Dizem que os rios para sul correm
Que as andorinhas voltam na Primavera
Que não se deve viver de quimeras
Que sonhos são penas que nunca morrem

Que dias felizes quase sempre escorrem
Por entre os dedos em pedaços de espera
Que se alberga no peito em saudade que impera
Que inunda os sentidos, teimosa em esfera

Que rodopia, não adormece na mente aflita
Mesmo que teime em chamar-lhe desdita
Saudades são cadilhos na ponta da manta

Com que me cubro quando fecho os olhos
E as saudades florescem em fartos molhos
Porque partiste, e me abafa a garganta.



terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Nas asas de um sorrisso

Hoje queria escrever de mim ou de ti
Sobre os teus sonhos, as tuas dores
Sobre os meus desamores
As tuas ténues contradições
As minhas aflitas aflições
Hoje queria escrever o desconhecido
Pensei, pensei e perdeu o sentido
Dei por mim a descrever um sorriso, ali

Na noite fria
Que inundou a nostalgia
Fez-me sentir catraia
Menina de mini saia
Tentando vislumbrar por entre nuvens
Mil castelos, vislumbrando miragens
De sonhos errantes
Mas nada é como dantes
Aconteceu que a noite, por instantes se tornou dia.

Nas asas de um sorriso atrevido.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Tu e eu...

Sei-te parte de mim, do meu sentir
Do meu olhar, mesmo de olhos fechados
Em madorna, ou então amedrontados
Pelo incerto, de que não me saibas ouvir

Sei-te parte de mim num tempo advir
Por onde os nossos passos livres, cruzados
Nos levam mesmo quando estão parados
E nos impelem a subir, o mais além que possa ir

O nosso crer, sei que algo pode acontecer
O dia pode emudecer, a noite adormecer
Até os rios pedem secar, e os peixes fugirem

No mar alto voltarem a morar, eu sei
Que és parte de mim, sei assim que te olhei
Que tu e eu somos vontades a afluírem

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Jura...

Recordo o teu rosto cansado
Numa luta desigual
Queria tanto ser beiral
Para te encobrir da tormenta
Esperança que acalenta
O meu coração moído
Por ora consumiu o sentido
Silenciou sem saber
Se o melhor, é aparentar não ver
Esse teu rosto fechado
Não sei se é certo ou errado

O sentir que me agonia
Recordo tempos, um dia
Numa jura prometi
Que não me ocultaria de ti
Deus sabe, não te mentia

O tempo, é que virou razia.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Linha débil e contradições ...

Perco-me tanta vez de mim e por mim
Elevo ao supremo uma linha débil
Que tem presa na ponta pedaços de marfim
Que exalam brancura por entre olhar fértil

Que vagueia de noite por ermos sem fim
Levando a reboque uma tortura ignóbil
Ao tentar dizer, não magiques assim
Sentires não passam de supremo móbil

Perco-me tanta vez, e sempre me encontro
Num andar apressado que me leva, e pronto
A um qualquer campo de terra batida

Afago essa terra como se fosse seiva
O olhar se envolve de forma expressiva
Ao voltar para trás, sei que sigo a vida.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Amizade...

Entrou pela casa a aurora, era noite cerrada
Amanheceram recordações, pedaços
De mim e de ti, tombados na estrada
O tempo parou, se esqueceram cansaços

Num gesto ansioso se estenderam os braços
Os olho se riram, choraram na cara cansada
O peito afagou outros tantos estilhaços
A aurora dançou e ficou até de madrugada

Não queiram nem tentem apartar a amizade
Quando vem para ficar, é forte, inabalável
Resiste ao Inverno da fria saudade

Resiste ao tempo e ás portas trancadas
Alimenta-se em favos de adocicado mel
Mostra-nos que na vida temos rotas traçadas.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Semente...

Um bom dia ao despertar
Um beijo no alto da testa
Começar o dia em festa
Mil sorrisos entregar

Vais ver que bem que sabe
Começar de manhãzinha
Assim que chegar a noitinha
Encontrarás o aconchego
De um carinho um apego
Uma vida alegremente
É só plantar a semente
Depois regar com carinho
E colherás um miminho
De um beijo repenicado
Tem o doce adocicado
De morangos com açúcar
Entrega de quem quer amar
Aos outros olhar de frente
Deixar-se ir na corrente
No coração tudo cabe


Cabe amor e afeição
O ódio e a maldade
Sabes, está na tua mão
Saber viver de verdade.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Poetas...

As andorinhas chegaram cedo
Entraram pelas janelas
Abriram asas, eu abri com elas
Soltei a imaginação
Deixei solto o coração
Abri a porta trancada
Deixei entrar a alvorada
Soterrei-me de cor sem medo

Desenhei na primavera
A força do pensamento
Não sei se é acaso ou momento
Aquele em que caminho
Igual a ave no ninho
No dia do voo primeiro
Penso, só estou em Janeiro
Como pode a andorinha
Sobrevoar de manhãzinha
O meu espírito como quimera

Num novo bater de asas
Vejo, não estou a sonhar
Vejo os teus olhos poeta
Soltos, no vento a voar.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Espalhafato...

Acordei pensando que o dia é interminável
Que sou força variável, igual ao vento
Tão depressa é forte, como é impalpável
Logo sou pedra, a tender cabeça de vento


Viro p`rá a esquerda sou pedaço de papel
Viro p`rá a direita, esboço um lamento
Se fico ao centro entro num carrossel
Ai Jesus, indefinição que não aguento

Tenho dias assim, nada sou nada quero
Espeto a cabeça, espero, desespero
Sinto-me pião rodando sobre o eixo

Paro para pensar, dou por mim estou no ir
Levanto a cabeça, e farto-me de rir
Olha o espalhafato que me pende do queixo.

Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo