terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Amanhã...

 Não quero desistir do sonho
Certeza que hoje me enlaça
Pergunto aos pombos da praça
- Amanhã, que traz no regaço.
Inquiro as pedras, até os bancos
Vazios de gente, árvores em prantos
Acenam ao anoitecer
Pergunto o que fazer
Nego abdicar de ti
De mim do que está por vir
Quero o teu sorriso, enfim
O meu em passos de lã
Passeia na esperança sim








Saudades


Que faço com a saudade de tudo
No meio de gestos em abolição
Nos olhos que adivinham emoção
Escapam ilusões descrentes
Onde está, o que é, o que sou ou que fui
O coração ora desdiz, ora anui
Irrequieto corta algumas verdades
Logo, quando a vida parar
Saberei que fazer e será tarde

Que faço na terra de ninguém
Onde até os pássaros se perdem
Talvez que o olhar me logre
E ali, ali seja o que da soidade sobre.



quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Mas que Liberdade



Pela treva nas ruas avisto a alma
Crianças que brincam enganando a fome
Olho p`ro céu e inquiro a calma
Da noite que passa onde tudo dorme

Nos gritos de riso falsa liberdade
De um país que os deitou na rua
Meninos de rua da nossa cidade
Despidos de roupa, uma vida nua

Vou passando adiante, esgueira o olhar
Os risos se perdem com o meu passar
Na rua seguinte um velho a chorar
Mas que Liberdade? tudo a desabar

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Décimas… Alentejo meu tesouro.



Mote.

Há tanta ideia perdida
Nos campos de trigo ouro
Vasta planície com vida
Alentejo meu tesouro

Por entre vales e serras
Chaparros e azinheiras
Sobreiros e velhas eiras
Contidos em farta rima
Entre memória com história
A planície embriagada
Nas rimas de triste fado
Canta aqui e acolá
Quase sempre ao deus dará.
Há tanta ideia perdida!!

Assim os dias vão passando
Na letargia de um ribeiro
O seu povo verdadeiro
Alegre cantarolando
Modinhas que são besouro
Que elevam os sentidos
No vento com seus gemidos
A saudade é bebedeira
Triste namoradeira
Nos campos de trigo ouro

Velhos de cabelo branco
Jovens de esperança viva
Esta terra está cativa
Presa em fundo barranco
A alma de todos nós
Moinhos de tantas Mós
Em grupo ou mesmo sós
O trigo lá vão moendo
Em quadras que vão escrevendo
Vasta planície com vida

Por agora eu termino
Ao cantar que a voz me doa
Alentejo me perdoa
Este meu jeito franzino
Venho da casta de um mouro
Que um dia caiu do vento
Plantou aqui seu rebento
Por entre o barro vermelho
Hoje no céu como um espelho
Alentejo um meu tesouro.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Porque chove...



Porque chove minha mãe dias a fio
Revivo ora a eito ora  amiúde 
Ao olhar o largo rio
Lá em baixo, da varanda que me cuide
Deste céu que despenca tão sombrio.
O mais que os meus olhos falarão
Na saudade de um gesto que se foi
As lembranças apenas isso são
Como a água deslizando em corrosão  
Nostalgia corre livre sem entrave
Porque chove minha mãe em contramão
Porque a chuva meu filho é a trave…

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Para...



Na tolerância caminhamos livres de preconceito
Acontece ao desafiarmos o medo
Quem sabe o degredo
Contudo a liberdade de ser livre pode ser pequenina
O cordão umbilical é podre, arruína
Sufoca  
Para quê construir pirâmides em redor
Se temos medo da areia
Busco não sei o quê ao longe
Serei inteligente o bastante
Para interrogar.

De que valem arrelias



Numa espera que não entendo
O cinzento do dia trás degredo
Enleado nesta chuva, o medo.

Porque são os homens, só homens
Se chove eu quero o sol
Para logo querer tempo fresco
De seguida renego todas as nuvens
Volto atrás imploro, deus dá-me calor
Tola de mim, desconheço a falta de um cobertor

Numa espera fria irritante
A alma humana se aflige
Demente  não sabe que adiante
Um raio de luz atinge

O corpo mesmo franzino
De que valem arrelias
Não crendo no destino
Eu sei! Há certos dias.

Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo