sábado, 28 de março de 2015

Logo mais...

E se o luar fosse sinal de que o amanhã floresce,
se o verde das árvores ficasse mais verde nesse luar.
E as pedras da rua fossem cirandas ao circular.
Mas o luar é só luar, as pedras, só pedras, e as árvores estão nuas.
Nessa nudez sobressai a certeza de que a luz pálida da lua,
atrai todos os Invernos.

Daí, o frio que pressinto ser muito mais que isso.
É um glaciar onde escasseia a vida.
Ou não fosse a noite prenúncio pálido onde coabita o credo,
e eu creio, com a crença propícia à cegueira…
O mundo não é mundo se a paixão sucumbe.


E a noite, ora a noite… logo mais dará lugar ao dia.


Logo eu...

Por vezes as palavras falham. Estão a mais,
 com uma futilidade estonteante.
Por si só, sinto na garganta o supérfluo.
Não sei que falar, que escrever.
Ele é um nó… que me atrofia.

Por vezes as palavras erram. Sem norte,
vão e vêem na minha mente,
vêem e vão, constantemente.
Correm veloz, mas… morrem antes de nascer.

Logo eu, que tinha tanto para dizer.



segunda-feira, 23 de março de 2015

Condor...

E se o sonho viesse uma única vez.
Me elevasse p`lo alto até o sol se pôr.
Se à meia-noite me mostrasse a lua,
ou as sombras que circundam, o sei lá, talvez…
De uma quimera.

Seria a noite, com certeza dia!
E a lua apesar de gélida aqueceria o meu ser.
Seriam as estrelas farol em alto mar.
E a saudade que me circunda,
se dissiparia nos ecos do meu pensar.

Mas como quimeras são castelos de espuma,
onde os fantasmas pernoitam.
Peço ao sonho simplesmente, um sorriso.
E aí… a lua, as estrelas e o mar,
dançarão noite fora, como no céu o Condor.




sábado, 21 de março de 2015

A Poesia...

A poesia é um caudal de água cristalina,
ou espuma branquinha em praia deserta.
Partitura de Beethoven, rir, suor e sina.
Deve ser brisa liberta que desperta…

O sentir pelo chão gretado, uma menina,
logo mulher… elege o amor em estrada incerta!
A poesia deve ser o sol que ilumina,
a tarde quente ou sombria da alma humana.  

Por tudo isto reclamo aos versos forjados,
retalhos de ceara por ceifar, brocados…
Molhos de rosmaninho em terra de ninguém.

Reclamo o teu olhar com ousadia e saudade.
Nos versos desnudo a minha ansiedade!
Choro por mim, que agora aqui… Amanhã além!

 21-03- 2015



domingo, 15 de março de 2015

Serás Tu...

Por entre o perfume do campo canta o Gaio,
o verde fica mais verde, e o canto cristalino!
Enquanto a alma vagueia nas ruelas… Quase caio
na dolência! Mas a saudade em desatino,

crava as unhas no meu peito… esqueço o Gaio,
a sombra, as ervas luxuriantes! E o destino
tem o peso das muralhas! Olham de soslaio;
enquanto penso em ti, assim amofino!

Estás ali… Cravada nas pedras a manhã cintila!
Inunda os sentidos, mas a falta que me faz
O calor da tua mão, num passeio pela vila.

Leva-me a um tempo que não vi… Intranquila
é a ausência desta vida… Serás tu sombra fugaz?
Ou o sonho… Pedra que carrego na mochila!


sábado, 14 de março de 2015

O peso dos Poemas...

Transportam os poetas a solidão,
e se for mulher, a nudez dos sentidos
Tem peso redobrado!
De nada vale cair o sol no seio,
Ou a brisa nos cabelos.
O que fica… somente as palavras!
Podem ser fracas, podem ser cumes,
Elevar ao alto o amor,
que foge apressado ao sentir o efeito
De um poema.
Transportam os poetas solidão!
Suporto eu o silencio das paredes,
o peso da terra, a míngua de acreditar.
Não me olhem como se fosse louca,
nem tão pouco como se fosse casta.
Olhem no fundo de cada palavra,
nas entrelinhas, e revejam-se no poema.
Transportam os poetas solidão!
Transporto eu a saudade de uma brisa ligeira.
Trespassou as paredes de cal caiadas,
saltitou nas pedras da calçada,
E como tudo, partiu.
Restam nas horas mortas, o peso dos poemas.
Que podem ser facas, que podem ser rosas!
Neles inquiro as paredes brancas e frias,
desnutridas de vozes, simulacro de túmulo.
Porque me deste Deus o condão de versejar?
Por acaso perguntastes se o queria…
Ou ris da minha facilidade, do meu jeito desengonçado
de escrever o que penso.
Perguntastes por acaso se o peso de um poema,
era o que queria por mortalha,
Perguntastes por acaso se não preferia não pensar.
Ou melhor… pensar em todas as coisas fúteis,
e ser mulher sem olhar.
Suporto o peso dos poemas e às vezes…
Queria ser só mulher.




Se perde a força...

Procuro o teu rosto na multidão
Por entre os passos submerge a loucura.
Como quem foge da noite escura,
Procuro o teu rosto na confusão.

De um dia de sol! E o meu coração
Salta p`la boca… Nada perdura!
Por entre os passos até a procura
Se perde amiúde na escuridão.

Que aniquila o sentir, tudo é transitório,
Ansioso… Até o que não foi é irrisório!
Procuro… e não te encontro no agora!

Que falta me faz um ombro amigo.
Que falta me faz um sonho antigo.
Agora… que se perde a força p`la estrada fora.






terça-feira, 10 de março de 2015

Faz um favor às Pedras.

Faz um favor às pedras
às pedras da minha rua.
Não lhes pises mais as ervas,
as ervas que são suas...

Faz um favor às pedras,
deixa que o verde as beije,
e quem sabe alguém deseje,
que as pedras brilhem ao sol.
Pois de noite à luz da lua
A solidão é lençol,
Que as pedras desvirtua...
Faz um favor às pedras;
às pedras da minha rua.



sábado, 7 de março de 2015

Mulheres sem voz...

Não se gastem palavras…caem efémeras,
sem raízes que as sustenham… As árvores morrem de pé,
as nascentes secam ao sol, e as noites brilham ao luar!
Não se gastem palavras, para logo se calar o eco de um dia…
Diz ser da mulher… Um oito qualquer!
E todos os outros, onde ficam, onde caem?
E todos os dias, todas as noites, sem luar?
Cedem em saco roto… À pancada que amofina,
o sonho à penumbra do Inverno.
Inferno gelado de mulheres sem voz!
Sucumbem na míngua de sol, arrastadas em lágrimas de sal.

Palavras são só palavras, se logo mais se fecha a porta,
se vira o rosto, à morte que desce amiúde,
num telejornal qualquer!


Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo