sábado, 31 de dezembro de 2016

Promessa... Feliz 2017.

Este dia de sol, igual à primavera.
Aquece o coração, tal como aquece…
A nossa silhueta, ao passar.
Só o silêncio pesa nos olhares, e sorri!

É sempre assim!...
P`las ruas de paredes brancas.
Pisamos este chão de pedra,
 trave das casas caiadas.
Sustentáculo da esperança.
Será ela a herança que vem de traz?
De um tempo de além… 
Gerado na paz!

É sempre assim: passo por ti.
Ou és tu, quem passa por mim?
Será que reparas? Que até o sol sorri!...
De mim, ou de ti. Ou para nós.
Com a promessa de que um dia…

Não passaremos… Só!...


terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Raio de sol…

Sei que por aí… Neste tempo ínfimo!
Tudo corre apressado, através do vento!
As lágrimas fogem, os sorrisos morrem.
Enquanto, procuro um raio de sol.

Segui os seus passos numa tarde, qualquer.
Nem sequer, dei por isso. Agora… Entendi!
Foi esse o instante, em que morri.
Foi essa a hora, o começo do fim.

Mas se um dia encontrar o meu raio de sol.
Tomarei cuidado para que não fuja.
Já que a vida sem luz, não tem qualquer graça.
O meu raio de sol, onde está? Que se passa?


quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

domingo, 18 de dezembro de 2016

O meu Pinheiro Verde… Conto de Natal.

Acordara de ânimo, leve, finalmente sentia que a alma levitava através da esperança, até conseguiu sorrir ao pôr o pé fora da cama! Coisa que até esquecera… foi há muito tempo que desaprendera a sorrir nesta quadra.
Sente-se velho! É um velho escriba, de palavras tantas vezes ocas. Nas mãos que já se apresentam, enrugadas, pende uma tosca caneta que tem vindo a transportar para o papel o negro do mundo. Nos ombros, o pesado fardo delineou a curvatura das costas e no olhar, já alberga os lagos gelados do norte. No coração, que trancou faz muito tempo, conseguiu ainda assim manter acesa: uma frágil e sonhadora luz. Que hoje despontou!
Todos os anos a mesma coisa… assim que Dezembro se avizinha senta-se numa manhã com o intuito de escrever um Conto de Natal. Manda a tradição que os contos de Natal; sejam leves e bonitos, manda a tradição que as emoções em Dezembro se mantenham ao rubro. Ao longo dos anos, ele tem conseguido contornar essa ideia preconcebida, a de que, Dezembro é complacente. Não podem os homens desviar a atenção das luzes natalícias. Em Dezembro as luzes querem-se brilhantes e luzentes, sobretudo devem pender de um pinheiro de plástico rodeado de presentes! Este Natal não iria lutar contra o brilho das luzes.
Não percebe… Até os pinheiros passaram a ser de plástico, e deixaram de ser verdes! O verde era a cor da esperança, e nada melhor do que um pinheiro verde para retratar essa esperança. Hoje, até os pinheiros são brancos, se repararmos bem: são da cor dos lagos gelados do norte! E ele teme que um dia destes o musgo do presépio também passe a ser branco, porque de plástico… já é!
Por isso mesmo, os seus contos de Natal tornaram-se ainda mais frios… Sente uma enorme incompatibilidade com os pinheiros brancos. Sabe que essa discordância afasta as pessoas dos seus parágrafos; no Natal. Deixá-lo; que a leitura torne ao rumo em Janeiro. Ou não fosse Janeiro o mês destinado aos parcos recursos…
Este ano, havia decidido não escrever Contos de Natal. De nada serve estragar o espirito natalício ao leitor. Sentia-se tão cansado… durante um ano inteiro ia se apercebendo que todos guardam as boas intenções para Dezembro! Até ele: Enquanto isso, guardava também as intenções para escrever Contos de Natal que ninguém queria ler em Dezembro. Paradoxo; sem pés nem cabeça!
Por mais estranho que pareça, habitou-se à ideia de que este ano se fingiria de morto, enquanto andassem entretidos com o Natal. Porém, a esperança por vezes faz das suas, quando menos se espera empurra a porta. Por sinal chega a ser malcriada, entra de rompante sem sequer bater!
Foi o que lhe aconteceu, durante a noite passada! Enquanto dormia teve um sonho…
Viu-se criança, de andrajos vestido! Muito embora sempre lhe tenham vestido, trajes de veludo. Nas solas dos pés sem sapatos, tinha desenhado um pinheiro despido de agulhas, tal a força do pó com que estavam cobertos os seus pequenos pés! Nos cabelos, fios e manchas brancas anunciavam que a frieza dos lagos do norte desabara, na sua cabeça. Não percebeu muito bem o que lhe havia acontecido… os seus cabelos eram pretos e agora apresentavam-se brancos! O pior foi a sensação de peso nos ombros! Era tão pequenino, nem sequer sabia dizer quantos anos tinha, e aquele peso que lhe curvava as costas, já o deixava perplexo e amedrontado…
A certa altura: Em pânico, perante a fragilidade que tão estranho sonho lhe trouxera, esteve prestes a desfazer-se em lágrimas. Mas nada aconteceu… não verteu uma única lágrima! Quando… aos seus ouvidos um trovão lhe revelou a penosa realidade… lá fora… o que restava das casas caía em chamas de cinzas, enfeitadas com o que restava dos seus sonhos de criança. Caiam sobre a sua cabeça, deixando-a ainda mais branca!
O pior aconteceu… o pinheiro que desenhara nos pés, desaparecera! No seu lugar nasceu uma estrada de espinhos… Haviam-se partido as janelas da alma e a guerra levara a melhor… Roubara-lhe o pinheiro que de verde passou a branco, de branco passou a ser somente uma árvore morta à qual se tinha vindo a habituar, mas agora… perante o peso dos espinhos a dor roubara-lhe até as lágrimas.
Por essa altura acordou…
Depois de se recompor do terrível pesadelo, saltou da cama e sorriu… afinal, ele, e todos os que conhecia, tinham paz à sua volta, tudo não passara de um tenebroso sonho. Mas… como sabe que há no mundo muitos a chorar de fome e de dor, e porque é Natal e Jesus vai nascer para salvar os que sofrem, vindo a morrer mais tarde. Tal como a criança do estranho sonho havia morrido… Decidiu que afinal...
 Este ano, volta a escrever um Conto de Natal, o no seu Conto de Natal desenhará em palavras cruas o retrato dos que morrem ao sabor de uma bala perdida. Decidiu também que o seu Pinheiro de Natal voltará a ser Verde, muito embora continue a ser de plástico. Sinal de que por vezes até os sonhos são de plástico! Para que voltem a ser verdadeiros não é necessário ao pinheiro ter prendas, que o dinheiro possa comprar. É necessária esperança num mundo melhor.

Bom Natal para quem chegou ao fim deste conto.

Antónia Ruivo, 18 de Dezembro 2016.


sábado, 10 de dezembro de 2016

O gosto de estar...

Não espero cuidado,
na supremacia imposta.
Descomprimo os afectos,
ao gosto de estar.
Paredes meias com os dias,
está a saudade das coisas!
Não quero nada da boca para fora.
espero o mesmo que a terra espera do sol:
Seiva e vida… iluminaria que seduz!
Enquanto isso, aguardo…
Tal como a terra gretada.
Na ambição do solstício,
escuto o silencio…
É ele quem vela a terra mãe!
E vai segredando…
Um dia regressarás à origem das coisas.
Estarás morta!
E a minha paz; por hora aparente…
Finalmente será Eterna.


sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Porque não…

Podias ser tu…
A sombra de um dia de verão.
Um ombro amigo, um bom irmão.
Podias ser tu…
O sol de inverno. A estrela da tarde.
Um oásis no deserto.

Podias ser tu…
O brilho nos meus olhos.
Rosmaninho aos molhos.
Podias ser tu…
Um amor, uma paixão.
Tal como o sol, porque não…




quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Desconheço...

Estou cansada, um cansaço insano!
Uma dor, a saudade, a falta de cor.
Um dia sem sonhos, ou sem amor.
Uma vida onde perdura o outono!

Até a chuva me faz companhia, inglório…
É este meu jeito de ser! Queria ser actor…
Com um palco e um pequeno tambor.
Onde martelasse um sopro irrisório.

Mas não… perduro além do tempo!
Onde o tempo é o melhor aliado.
Mas mesmo assim esquece alegria!

Deve ser desta chuva e da ventania…
Que se abate neste final de dia.
Deve ser… e mesmo assim desconheço!



Trilho...

Estás parada numa encruzilhada estéril!
Infecunda sobreposição de ti mesma.
Redopias num parapeito insidioso e débil!
Vencida te submetes a traçada nesga…

Ínfima claridade, sem bravura ou corcel.
Retalhada no peito, onde a chama se apaga!
Vacilante! Aparece um irrisório anel…
Suspenso na ventania que te empurra.

Parece que o destino é de terra batida.
Ou que o coração se renova em pedra.
Só os teus olhos teimam em chorar!

Então… porque finges que não dói lembrar…
Aquilo que o tempo faz questão de tirar.
Se o trilho é seguir até ao virar da esquina…


quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Desejo...

Se eu confessar que és o sol do meio-dia…
Um punhado de seiva numa árvore agreste…
És o querer com vontade, quem diria!
Que até és a pele que o impossível veste.

Se eu confessar: Que podes ser nostalgia…
A minha raiz, o meu ser, bem-querer celeste!
Um raio de luz, pingo de chuva, ou a magia…
Das manhas orvalhadas e do vento de leste!

Será que o tempo que se dilui em lamento.
É aliado da fantasia que me visita amiúde.
Enquanto espero e não espero e intento…

Todos os sonhos de uma vida que invento!
Na pequenez que o ápice olvida e ilude…
Um desejo de cor que se dissolve no vento




terça-feira, 22 de novembro de 2016

Amar...

Guardarei para sempre o teu rosto.
Dentro do meu coração.
E nos dias em que a tristeza bater…
Serão os teus olhos o meu sol de verão.

 Tudo o que espero…
Quando a noite chegar.
É esta tão minha, certeza.
Que só levamos da vida
A firmeza de amar


domingo, 20 de novembro de 2016

Sonhos que voam...

Na tarde que fugiu apressada, desenhei…
O mais profundo sentir e tentei afastar,
todos os ventos agrestes. Por isso inventei…
Todos os sonhos e todos os sorrisos por dar.

Quero repartir contigo, só assim vestirei…
Um vestido de chita e o seu rodado dançar.
Quero repartir contigo, mas não fingirei…
Ser o que não sou. Só sei gatinhar…

Perante todos os que sofrem e choram.
Sabes… sou poeta, má sorte a minha.
Finjo melhor que ninguém, jamais morram:

Todos os anseios e em força viva corram…
Através da chuva até de manhãzinha.
Só assim serão eternos os sonhos que voam.


Tristeza ao acaso...

Está tudo tão quieto na rua deserta!
Só as folhas dançam ao sabor do vento.
Vestidas de chuva, vivem em festa!
Enquanto a noite vem e não vem, intento…

Um amor e uma lareira, brincadeira funesta.
Que não afasta a solidão através do telhado,
da minha casa de vidro… tão incompleta
é a saudade que escondo num fado!

De rimas cor de mel, de acordes sem sopro.
Sem momentos traçados a giz, ou passos…
Paralelos aos teus… Na chuva me escondo.

Por tudo isto; peço que oiças o vento.
Passa apressado sobre os telhados.
Nas suas asas, leva uma tristeza ao acaso.





Quero ser menina...

E agora que tenho a chuva como aliada.
Deixa que me atreva ao amor, sem pudor…
Ou receio que me aches tresloucada.
Talvez me atreva a vestir os versos de cor…

Convido ao prazer desta tarde chorosa.
Deixa que vista o dia de pirilampos, por favor.
Deixa que pense em ti… Quero ser menina
sem hora marcada, sem medo ou dor.

Neste dia de chuva, talvez omita a guerra.
Quero fingir que as borboletas são eternas.
Vou desenhar nas nuvens a primavera!

Traçarei flocos de neve e uma épica luzerna…
Onde tu e eu seremos tal qual açucenas.
Enquanto a paz transparece da alma.




Estende a tua mão...

Olho o cinzento do dia e penso comigo…
Todos os dias carecem de amizade.
Todos os sonhos carecem de abrigo.
Todos os seres carecem de felicidade.

Porque passas sem escutar o que digo.
Através de desmedida ansiedade.
Porque fogem os teus passos em castigo.
Porque… porquê… se a sinceridade…

É pilar e ergue torres. Suprema visão!
Que me leva, além…onde a chuva consente…
Uma clareia de sol… Estende a tua mão…

Olha através de mim sem confusão.
Sou uma alma vencida tão somente:
Que através da chuva redesenha o verão.


Tal como a chuva

Por entre os salpicos da chuva um raio de sol.
Uma esfera cintilante que circunda o meu ser.
Um coração que bate, iluminado tal farol.
Só o meu olhar finge distância, sem querer!

Deixo ao dia o seu curso sem entrar no rol.  
Que afugenta a ilusão do entardecer.
Oiço o murmurar da chuva no seu lençol.
Enquanto o riacho aos meus pés julga enaltecer...

Todo o amor por amar, ou os beijos por dar!
Será utopia… ou então loucura… será fresta…
Por onde entra... destemida... uma nesga de luar.

Não queiras virar as costas só por virar.
Escuta todos os gritos que saem da alma.
Tal como a chuva reinam nos dias sem par!


Ousada tentação…

Antecipo através dos pingos da chuva...
Fantasia ou raio de luar… antecipo!
Enquanto as pedras da rua choram a nostalgia…
e por entre o dia cinzento, és o sol no meu peito!

Ousada tentação, tão longe e tão perto…
Tão perto do espírito, sem alcance da mão.

Será que os teus olhos vêem o reflexo.
Será que se perdem e vão mais além…
Será… tantas as dúvidas… diluvio imenso!

Enquanto a chuva molha o meu rosto.
E o vento despenteia os cabelos.
Nem todas as utopias são o oposto…
Ao pisar da calçada coberta de anelos.





sábado, 19 de novembro de 2016

" Estranha Paixão e Uma Traça Chamada Esperança"

Já pode adquirir dois dos meus livros na Amazon.com


https://www.amazon.com/Estranha-Paix%C3%A3o-Portuguese-Antonia-Ruivo/dp/1326716832/ref=sr_1_1?ie=UTF8&qid=1479570786&sr=8-1&keywords=Antonia+Ruivo
..............

https://www.amazon.com/Uma-Traca-Chamada-Esperanca-Portuguese/dp/1326732382/ref=sr_1_fkmr0_4?ie=UTF8&qid=1479571847&sr=8-4-fkmr0&keywords=uma+ta%C3%A7a+chamada+esperan%C3%A7a

Não deixes ao tempo...

Porque deixas ao tempo coagir a leveza.
Enquanto a visão do meu rosto se esfuma…
Por entre as cinzas que em tempo… foram brasa.

Porque lhe deixas, supremacia e ligeireza.
E que transforme todos os sonhos em espuma…
Se no amparar da vontade se afasta razia.

Não queiras ter medo de amar, é certeza.
Que o sol acarinha e o prazo afasta…
 Não deixes ao tempo… ilusão sem primazia.  





Solidão...

É a solidão um fardo pesado.
Até as paredes olham desconfiadas.
Outras, somente admiradas!
Tudo pesa, até o silêncio gravita…
Tal qual a lua… gira em torno do eixo.
Gira o silêncio em torno de mim.
E giro eu na tarde fria.
Enquanto os sonhos se focam no fim.


quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Pensar...

Às vezes penso, e quanto mais penso…
Mais me atrevo a pensar!
Às vezes penso que a chuva não molha o corpo.
Que o vento não varre o pó, que o céu está ali…
Às vezes choro e no choro descubro o sabor do riso.
Mas às vezes penso e quanto mais penso…
Mais me atrevo a pensar!

Neste rodopio eminente, ou no estrondo do ser…
No ver sem ver, as nuvens ou os pássaros.
E até as penas são alabastros!
Enquanto o mar se afoga nos sonhos…
Ou sonhos se afogam num mar sem espuma!

Nessas alturas quase sempre o dia termina…
Como sempre termina, na certeza de que amanhã:
O sol nascerá!

E eu penso…porque pensas se o pensar pesa.
Se o dia nasce e volta a nascer.
Enquanto  levas de vencida tão estranho, pensar!


segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Medo...

Tenho medo!
Não um medo qualquer,
mas um medo muito meu.

Não tem cor, nem cheiro.
Muito menos tem eco, ou grito.
Nem sequer tem choro.
Mas mesmo assim tenho medo!

Tenho um medo quieto!
Num ocidente sem guerras.
Permissivo mas inóspito.
O que me leva a questionar…
O mais pacato sentimento.

Para onde caminhas,
humanidade em declínio?
Se apesar do medo,
recorres ao medo,
para impor tirania.

Por isso mesmo na minha pequenez…
Tenho medo de um dia ter Medo.




domingo, 13 de novembro de 2016

Quem diria...

Sinto uma certa tristeza
e um certo vazio!
Desnuda, uma lágrima fugidia,
trespassa a fronteira da alma,
Mas…quem diria!

Que o teu olhar traz a calma,
de um reino longínquo.
O teu sorriso traz a aurora,
de um dia de verão.
O saber-te traz conforto
ao meu coração.
Quem diria!



quinta-feira, 10 de novembro de 2016

As asas do sonho…

Ainda não vieste…
E já tenho saudades se um dia partires!

Não sei se é a chuva de outono,
quem me traz o teu rosto.
Ou se a tua voz vem no vento da tarde.
Não sei me chegas no sol, ou no frio.
Adivinho o teu abraço:
Nas nuvens que passam…
E sei que és tu!

Ainda não vieste e os olhos sorriem!
Sempre que te adivinham.
Por isso: Não percas tempo…
São todos os passos as asas do sonho.
E todos os momentos, vontade.

Que a certeza de amar empurra. 


terça-feira, 1 de novembro de 2016

Era uma vez a Perfeição… Um conto de Antónia Ruivo.

Era uma vez a Perfeição, morava num lugar maravilhoso, repleto por um tapete verde, de um verde translúcido, que a Certeza tecera. Nas noites em que o luar beijava a terra e nela depositava uma luz pálida, mas sedutora.  
A Perfeição tinha tudo para ser feliz, ainda assim, existia no fundo dos seus olhos uma pequena Sombra. Ela não compreendia o seu significado e verdade se diga, eram mais os dias em que a esquecia por completo, do que aqueles em que lhe prestava alguma atenção.
Era um ser sobrecarregado de afazeres, umas vezes era a Auto-estima, quem lhe dava uma trabalheira daquelas, outras, a Altivez tratava de lhe roubar o tempo!  
Vestia, vestidos muitos caros, que um costureiro famoso costurava pela tardinha. Todos os seus vestidos eram de seda, da mais Pura que existia no pequeno reino translucido. Morada de família, onde há muito ela era a única habitante. Ela e o costureiro, todos os outros se fartaram das Luzes da Ribalta! Haviam partido; faz muito tempo. Como companhia dos seus dias de Primor, a Perfeição tinha um papagaio, de papel. Os verdadeiros dão muito trabalho e fazem um chinfrim danado!
Hoje de manhã ao acordar a Perfeição sentiu uma fraca indisposição, levantou-se cambaleante e assomou-se à janela, para seu espanto o papagaio havia desaparecido! Correu ao redor da casa mas do seu companheiro de cavaqueira, nem sinal! Contrariada, dirigiu-se à cozinha e fez um chá de camomila, na esperança de que a indisposição passasse.
Ele voltava… já não era a primeira vez que desaparecia, longe vai o tempo em que isso a deixava deprimida. Da última vez, estivera fora três dias, três dias inteirinhos, em que a Perfeição nem sequer dera pela sua falta, tão entretida com uma nova contenda. A de julgar todas as Atitudes do costureiro.
Não é que o desgraçado naquele mês ao invés de costurar vestidos, que era só o que ela gostava de vestir. Decidiu costurar calções! Ainda por cima, de uma ganga surrada e esburacada. Bem que o infeliz lhe garantira ser a última moda, até jurara a sete pés que a herdeira de um trono longínquo, não vestira outra coisa naquele verão. Mas não a conseguiu convencer.
Alguma vez; uns arcaicos calções, alguma vez… podiam competir com os seus vestidos de seda. Jamais.
São agora três da tarde e está sentada no alpendre, continua indisposta, mas aos poucos tem vindo a melhor, muito ajudou a altura em que se dirigiu à casa de banho. Quando se olhou no espelho achou-se um pouco amarelada, ainda assim; estava deslumbrante. Os cabelos cor de mel cobriam-lhe os ombros e assentavam com a destreza de uma pluma no meio das costas. Lavou a cara, penteou-se, pintalgou os olhos de verde-esmeralda e empoou as bochechas com uma cor carmim, a terminar, pintou os lábios de vermelho, framboesa.
Regressou ao quarto e decidiu vestir um vestido negro, o único que possuía dessa cor, enfiou uns sapatos cor de prata e saiu para a rua.
Mal dera dois passos e a Indecisão tomou de assalto o seu espirito. Coisa pouco habitual! Tinha tudo o que uma pessoa poderia desejar, nada lhe faltava, até a Soberba lhe sobrava na medida exacta às suas necessidades. Tinha tudo, só não tinha amigos!
Nem o costureiro era seu amigo, só a bajulava pelos trocos que lhe dava a ganhar. Quanto ao papagaio de papel, era um infeliz, ao qual faltava o carreto para levantar altos voos. De repente; foi tomada por uma repentina Decisão…Iria até aos limites do seu reino… iria fazer o que nunca tivera Coragem para fazer. Olhar com atenção para o outro Lado da Moeda.
Andou mais ou menos dois quilómetros, levou mais ou menos duas horas percorrer a distância. Talvez haja quem pense que duas horas para dois quilómetros, é tempo demasiado, mas Tempo é coisa que nunca lhe falta.
Gosta que tudo esteja nos eixos, impensável dar um passo e logo a seguir o outro. Primeiro mexe ao de leve a planta do pé, depois ensaia meio segundo e levanta o calcanhar, não sem antes assentar bem os dedos no chão, e só depois dá o passo final. O que são duas horas se os seus passos saem sempre Perfeitos!
Ao chegar aos limites do reino quase esbarrou na Curiosidade, corria solta e leve pelos campos em redor das papoilas, vermelhas. E foram elas, as papoilas, que a tiraram do sério!
Como podia ser? Aquelas plantas agrestes, ondulantes há mais pequena brisa. Que murchavam ao ínfimo raio de sol. Bastava que incidisse por mais tempo de um lado, do que do outro. Como se atreviam, se dormiam ao relento, debaixo de chuva até, como se atreviam a ter um vermelho mais aveludado, do que os seus vestidos de seda?
Mas, como uma senhora não dá atenção a exibicionismos, fingiu que não as viu e seguiu em frente. De nariz em riste, ignorando a Curiosidade que se aproximara para a cumprimentar.
Andou mais um pouco e nem queria acreditar, no que os seus olhos estavam a ver! No lado norte de um descampado uma rapariga de olhos de avelã, despenteada e sardenta, brincava com o que parecia ser… O seu papagaio de papel!
Pensou em se abeirar, em gritar, afinal, ele era o seu papagaio. Mas ao invés disso, escondeu-se atras de uma moita e ficou a olhar a brincadeira. A sua atenção depressa descaiu, nas roupas que a raparia vestia. Uma saia aos quadrados desbotados e uma camisola branca. Branca… qual branca… amarela, de tanto ser lavada!
Nos pés, a rapariga calçava um pouco de nada, tao diferentes eram aqueles pés! Ao saltarem ao redor do papagaio pareciam girar com um pião, livre e solto pelas ravinas da vida! Diferentes dos seus, sempre tão atinados no andar.
Naquele instante, desmaiou… Aquela brincadeira, só pelo prazer de brincar, foi demais para a Perfeição.
Ainda hoje desconhece o que lhe aconteceu, ao certo! Enquanto permaneceu desmaiada, nem sabe quanto tempo esteve desmaiada. Sem saber porquê, pensou que era o fim, que o seu tempo havia chegado. Afinal o papagaio de papel sempre lhe dissera que um dia a Morte vem, e para piorar tudo, chega e não bate à porta, entra de rompante, sem dar Tempo a nada!
Não sabe, quanto tempo esteve desmaiada. Como companhia nesse momento difícil teve a Sombra, que habitava no fundo dos seus olhos. Sem que esperasse tal atitude… deixara de ser uma Sombra Exígua e tomara a proporção de uma Nuvem Espessa, acinzentada e rodeada de pequenos pontos de Interrogação. Tudo o que recorda é que a Sombra lhe segredara.
   - Aprende com eles, vou dar-te a Oportunidade de conheceres o que realmente conta, volta e entra na brincadeira, já é tempo de aprenderes que a perfeição não existe.

Nesse dia a Perfeição, descalçou-se dos sapatos de cristal, dos vestidos de seda, e enlameou-se no barro. Brincou ao lado da rapariga da saia aos quadrados e do seu papagaio de papel, que sem saber de onde lhe tinha vindo, um volumoso carreto, voava pelos céus em voo rasante ao infinito. Enquanto cantarolava uma canção sem nome.

Quem não ficou nada satisfeito com esta Transformação foi o costureiro, que perdera o ganha-pão, e ao invés de Aprender outra profissão, encheu-se de Orgulho e passou a mendigar o pão com que alimentar os ossos, flagelados pelo ofício do corte e da costura.




Tudo passa...

Apetece neste dia de sol envergonhado
O pregão a castanhas assadas. O cheiro da rua,
 passear mão na mão, olhos nas esquinas,
em busca de sorrisos e gestos prazenteiros.

Apetece o teu cheiro, romã madura.
Água-pé, até um café em pires de prata.
Peço ao dia um pouco de tudo isto.
Numa ilusão tresmalhada.

O que são saudades senão aventurança.
Longe ou perto o tempo é movimento…
Tudo passa… só não passa a lembrança!






segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Trémito de um ciclo…

Termina um tempo onde o estar resultou…
Da resistência de ir além, de ser só por ser.
Senhora de mim, do meu destino. O que ficou?
Para além do aprender, restou o brio e o fazer.

Anseios traçados no limiar do ciclo que resultou:
Numa roda-viva! Nos dias bons o renascer,
de todas as andorinhas! Nas suas asas voou
a dor dos dias maus, que não devo esquecer.

É o tempo a imposição das ambições, o renegar
da inercia. Sempre que a sorte é ditada p`lo Brio
É o tempo… a junção da noite e do dia, o conjugar.

 Espera que não alberga medo e sim dominar.
 Limitações jamais serão barreiras… devem ser rio.
Nas suas margens o alicerce para o alcançar.




sábado, 29 de outubro de 2016

Quanto tempo...

Se eu adivinhar os teus passos…
Será que me olhas com olhos de quem vê além das pedras da rua.
E no teu coração existirá um nicho onde repousa a ternura.
Será que nas noites escuras chamarás por mim.
E nos dias tórridos procurarás a calma no meu ser.
Na ânsia da acalmia para os sentidos.
Será…

Ou pelo contrário, passarás apressado… sem tempo…
Oportunidade perdida à boca do caminho que os pés pisam!
E a cabeça esquece, enquanto o coração adivinha…
Horas de solidão… Quanto tempo?
Para que a sombra que passa apressada fuja.
Para que o dia reveze a noite onde estou.
Escondida dos olhos, longe do peito… enfim…
Será que se adivinhar os teus passos:
Os teus olhos me voltam a deixar ir…





Crença singela...


Quando me sento sobre as sombras do dia,
e adivinho os passos dos outros,
penso esquecer, qualquer dor ou lamento.
Incido o olhar nas esquinas nuas,
e redescubro orifícios…
Por onde se soltam os ais!
Outras vezes, fico somente:
A olhar o vazio das ruas sem vida!
Regresso à infância de pés descalços!
Na terra gretada pelo suão,
de um Agosto de todos os sonhos.
Ainda assim; dispo as certezas!
Esqueço ambições, mas penso em ti.
Visão incomum, maré de muitas ondas.
Ceara verde, tingida do vermelho,
de uma papoila saltitante.
E volto a ser crente, de uma crença singela!
Creio no amor pelo amor maduro.
De um cacho de uvas, de cepa agreste.
Creio na vida pela vida dada.
De uma costela do campo em rama.

Quando me sento… redescubro orifícios!
 Por onde se soltam os ais do povo…
Nessas alturas sou exígua:
Como partículas de pó;
nos dias estivais.


sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Perdemos tempo…

Procuro p`lo sol que não encontro!
Nem sequer na ruela da imaginação.
Tudo é deserto e um estranho confronto…
Faz dos meus dias, impulsor sem ignição!

Mas que mola motora incita o barómetro?
Se a mente mesmo que em sofreguidão:
Se distancia inevitavelmente do centro.
Por onde levita, irreconhecível a paixão.

Somos parcos de luz e sóbrios no sentir!
Perdemos tempo que ele não dá ao correr.
E mesmo assim; cremos que devemos cobrir…

O coração de fria estopa, estranho viver!
Num mundo perdido, onde escasseia o sorrir.
Enquanto as evidencias… se ocultam sem ser.



Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo