Crónicas


Comentadora de bancada. (Crónica)

Passo muito tempo comigo a sós, muito desse tempo é gasto com a poesia, mas de vez em quando há uma frase, situação, ou estado de alma que promovem um recolhimento em torno da mulher que sou enquanto poeta, e sobretudo enquanto cidadã de um país envolto no desgoverno social. Todos sabemos onde pairam os culpados desse desgoverno, melhor seria e melhor viveríamos se assim não fosse.
Com o passar dos anos e com um percurso de vida que me levou do berço rural para o reboliço de Lisboa durante duas décadas, sei que aqui há meia dúzia de anos atrás ainda estava convencida que sozinha conseguia mudar o mundo, a meu bel-prazer, e o pior de tudo é que às vezes achava que se determinada coisa fosse boa para mim por acréscimo seria boa para todos.
Quero chegar com a conversa ao dia em que decidi mudar o mundo numa pequena vila do concelho de Montemor-o-Novo, e candidatei-me à junta de Freguesia de Santiago do Escoural como independente nas listas do PS. Foi na lista do PS como poderia ter sido na de outra força politica qualquer, tinha é que ser da oposição. Convém dizer que embora estivesse convencida que tinha capacidade para mudar o mundo, sabia perfeitamente que ser politico neste país algumas vezes é somente achar que ser diferente, ter ideias diferentes, trabalhar de forma diferente, basta que a árvore ao ser plantada fique dois ou três milímetros, ou mais para a esquerda, ou mais para a direita, e que assim o trabalho executado prima por essa mesma diferença. Há muitos anos vesti uma cor política mas também há muito tempo que optei por olhar de fora os partidos.
Não ganhei a eleição e vi-me na cadeira da oposição numa pequena junta de freguesia, no meio rural alentejano, eu, a cidadã que achava que mudar o mundo era tão fácil, até ao momento em que me defrontei com a realidade dos números e comecei assim a descer do meu patamar elevado, dei por mim a olhar com outros olhos a luta de quem está à frente das instituições no meios rurais, onde os orçamentos e as verbas disponibilizadas são digamos, dadas por cabeça, eu explico, quanto maior o número populacional, maior as verbas que chegam de Lisboa. Durante quatro anos fiz oposição, muitas vezes votei contra, com o que achava estar mal, mas muitas mais vezes votei a favor com respeito pelo trabalho desenvolvido em prol da população, à custa de muitas horas depois de um dia passado no seu local de trabalho, o executivo da junta trabalhava o melhor que sabia para gerir os fracos recursos que eram de todos nós. Também aconteceu meterem os pés pelas mãos na caça ao voto durante esses quatro anos, para isso serve a oposição, com respeito e bom senso entre ambas as partes, porque se a roda virar de rumo também ela, oposição, entrará pelo escaparate da caça ao voto, não tenhamos ilusões.
Não sei muito bem porque me lembrei disto agora, talvez seja porque estou cansada e como eu a maioria da nossa população, de ver políticos, uns de trazer por casa, como eu, outros a nível nacional, atirarem para a praça pública promessas impossíveis de cumprir perante a realidade financeira de Portugal. E o pior de tudo, de ver a roda-viva em que algumas pessoas entram com a demagogia eleitoral, ao vestir a camisola desta ou daquela promessa politica.
Como estou cansada decidi hoje ser também eu, comentadora de bancada, e faço desta crónica à semelhança do que fiz em anos anteriores o meu apelo de Natal. Desta vez um apelo mais generalista, todos vós que me lêem com alguma regularidade, em poesia ou em prosa, sabem que em quase tudo o que escrevo sou movida por um olhar crítico em relação ao meio, não me assumiria poeta se assim não fosse.
Que se deixem de lado guerras e guerrinhas, que se unam as vontades, que haja respeito pelas opiniões contrárias, mas sobretudo que se saibam unir esforços em prol das gerações futuras.
Só assim Portugal deixará se estar na cauda da Europa, só assim se começará a ter vergonha ou orgulho novamente.

Feliz Natal, porque mais perto da quadra não terei tempo para crónicas.

Dia de S. Valentim…
Neste preciso momento apetece-me falar do dia de S. Valentim. Fiquem descansados, que não me alongarei sobre o facto do mesmo não ter tradição alguma no nosso país, e de só ter passado a ser notório no nosso calendário, pelo facto de que as superfícies comerciais, há uns anos atrás, terem surripiado ao dia de S. Valentim a oportunidade para escorarem certos produtos, que se encaixavam no tema. Oportunidade, essa, que hoje é largamente aproveitada por variadíssimos agentes económicos e que assim ajuda na sua sobrevivência, no meio desta crise que nos afecta a todos.
Não, não é sobre esse dia de S. Valentim que me apetece escrever, mas sobre o outro, o dia-a-dia de casais mais ou menos enamorados.
Peço por isso uma breve reflexão, porque sei que já deu voltas à cabeça, sobre o que vai oferecer neste dia à sua Cara-metade.  Mais, numa tentativa de lavar a sua alma, do que outra coisa qualquer.
Pergunto. Há quantos anos repartem a vida, os problemas e as alegrias que ela contém.
Quantas vezes, ofereceu uma flor ao longo do ano àquela ou àquele que está a seu lado.
Quantos sorrisos, ofereceu nos momentos de tenção, quantas vezes pediu desculpa por algo que não deveria ter dito.
Quantas vezes se levantou da mesa para ir buscar algo ao outro, e quantas vezes disse, Eu te amo, só por carinho e necessidade de exteriorizar o que lhe ia na alma, ou simplesmente para ver um sorriso estampado na cara do outro.
Pois é, apeteceu-me escrever sobre o dia de S. Valentim, e tudo porque dias disto e daquilo não me dizem nada que seja útil, sem ser aqueles dias do calendário, que existem para recordar que há gente a ser subjugada e escravizada, seja ele homem, mulher ou criança.
Lá dizia o Poeta.
Natal é quando um homem quiser.
Agora digo eu, Dias de S. Valentim, devem ser todos os dias de uma vivência em comum, em gestos simples e sem custos adicionais.
Que me desculpem todos os que fazem deste dia uma oportunidade de negócio, que eu compreendo.

 




Sousa Tavares "Facebook é agência de namoros e 'Big Brother' voluntário"


Pois é, em parte concordo consigo, Miguel Sousa Tavares, mas por outro lado temos que ser um pouco mais objectivos. É tão fácil julgar colectivamente as redes sociais. O Facebook é uma rede de namoros, claro que sim, antigamente cobiçava-se a mulher ou o homem alheio na esplanada do café, ou na secretária da frente, ainda no autocarro ou no metro. Antigamente os vizinhos da frente diziam-nos bom-dia ou boa-tarde principalmente se fossemos considerados velhos. Antigamente as revoluções faziam-se na clandestinidade. Hoje travam-se nas redes sociais. O exemplo, o que se está a passar com o desastre no Meco, não sendo uma revolução, é o exigir da verdade. Pergunto Sr. Doutor, será que o ministério publico tinha aberto processo um mês após o acidente, não fosse o alarido provocado nas redes sociais, teriam as televisões e os jornais mantido o assunto na ordem do dia, não fosse esse mesmo alarido. Este é só um exemplo com o que acontece hoje em dia nas redes sociais que o senhor abomina. No seu direito claro está.
Pois é, o Facebook é uma agência de namoros, abençoada ou amaldiçoada rede que tira da solidão grande parte da população idosa, em Portugal grande parte dos utilizadores são pessoas com mais de sessenta anos de idade, é que o panorama dos reformados tem vindo a mudar os que estão hoje na reforma são pessoas que já sabem ler e escrever, que trabalharam ao longo da sua carreira profissional com computadores, e que se não fosse o Facebook hoje estariam praticamente isolados do mundo, porque vivem a grossa maioria nas grandes cidades e tem medo de sair à rua para conviver. Para não falar dos que estão nas camas dos hospitais, nos presidiários, nos que estando desempregados perderam a vontade de sair para a rua, depois de sucessivos fechar de porta, e só não acabaram ainda com os dias porque uma rede de amigos desconhecidos os metem à tona de água, com palavras amigas de amor ou seja lá o que for. Que sinceramente eu que sou facebokiana activa às vezes também não acho graça nenhuma, e também dou a minha ferroada.
 Já reparou Sr. Doutor, que raio de país este, em que a única palavra amiga que muitos dos portugueses tem ao longo do dia é um beijinho mais ou menos atrevido aqui no Facebook.
Pois é Doutor Miguel Sousa Tavares, o Sr. não tem Facebook, é um homem feliz, tem a visibilidade que a sua profissão lhe trás, ao entrar-nos porta dentro sem pedir licença, e assim sendo, não precisa de redes sociais para dizer aquilo que pensa. Já eu se quero transmitir o meu ponto de vista e chegar ao maior numero de pessoas possível, tenho que facebookiar . Acho que a palavra Facebookiar não existe, mas também o Sr. Nunca a vai ler, não é mesmo, a não ser que faça como antigamente, ande por aqui encapuçado, é que para quem não tem Facebook o senhor está muito bem informado do que aqui se passa.


Minhocas


Apetece-me escrever, escrever sem pensar, sem ilusões, meditações mas com muitas frustrações. É que hoje estou zangada com a passividade, a minha e quem sabe a sua que se retrata na minha zanga.

Apetece-me escrever só por escrever do meu país, há deriva num mar revolto de insatisfação, escraviza a falta de fé em quem nos governa e em nós próprios.
Que será dos milhares sem trabalho, reparem falo de trabalho e não de emprego com horário certo pelo compassar do relógio, das oito às cinco, falo dos que trabalharam dez e mais horas por dia grande parte do ano, ano após ano o desengano acumulado, e agora? Claro está que também me apetece falar dos que tiveram direito ao direito de um trabalho bem renumerado e regulamentado consoante as funções que desempenharam, e mesmo assim engrossam o bolo do desemprego, e daqueles que embora os anos de estudo tivessem sido árduos, tem que deixar o país em busca de sobrevivência, porque aqui são desempregados sem nunca terem tido a sorte de exercer actividade laboral. Falo também dos que tem a corda na garganta sem saber o que o futuro lhes reserva, embora tenham trabalho.
Sem meditação falo agora dos doentes crónicos e não crónicos, dos idosos e sobretudo quero falar de homens e mulheres a meia-idade, velhos aos olhos alheios de uma sociedade insana, novos no sentir e pensar no muito que tem para dar ao seu país, e das crianças sem futuro, nasceram do lado errado num país errado na estratégia e nos valores.
Falarei daqui por diante nos nossos governantes das ultimas décadas, falarei agora meditando a fundo na covardia das mordomias, do compadrio, do safe-se quem puder, nos chicos espertos que engordaram à conta de um estado muita vez passivo e conivente. Falarei também dos milhões que entraram neste país durante anos a fio, nos milhões deitados à rua a troco da morte da nossa indústria piscatória, da nossa agricultura, do nosso sustento enquanto nação. Falarei da obediência cega a interesses, quotas e mais quotas que atiraram os países mais pequenos para o buraco sem fundo em que nos encontramos., e da morte da nossa industria de têxteis, da industria vidreira e tanto mais.
 Falarei do oportunismo de alguns, um rebanho encurralado, meia dúzia de oliveiras, e outras lidas para receber o subsídio que pagaria a piscina, o carro de grande cilindrada e as férias nas caraíbas, das verbas atribuídas a pequenos negócios que se sabiam mortos assim que as verbas faltassem.
 Falarei dos supostos cursos de aperfeiçoamento subsidiados por chorudas verbas comunitárias que serviram para ensinar de tudo aos mais fracos em habilitações escolares, para criar vícios inertes, num deixa andar quem vier atrás que feche a porta, e dar emprego a dezenas de técnicos que engrossaram os dependentes de um emprego estatal.
Falarei por fim com um sorriso rasgado e aparvalhado de um curso intensivo aqui por terras alentejanas, há muitos anos atrás, onde se ensinou a criar minhocas, não sei porquê, sempre que falo destas coisas vêm-me á lembrança esse bendito curso. Minhocas, todas aquelas que deveriam ter tomado de assalto a cabeça dos nossos governantes nos últimos trinta anos. E as nossas, ovelhinhas bem-mandadas e recatadas.
Já desabafei, agora vou meditar um pouco no calor de Setembro e na troca com a Tróica, melhor nestes últimos dias e no silêncio pesado que reina no reino do mete a mão ao saco, tirando umas universidades de verão pouco mais vibra, confesso que o silêncio me dá cabo dos nervos, será que se eu criar e alimentar uma criação de minhocas, elas, as ditas provocarão alarido?
 

Ela é caricata…

O que fui numa vida passada, a pergunta incendeia o meu olhar acomodado com a vida de agora, mentiria se dissesse que não me questiono ao ponto de hoje divagar o que terá sido a comadre Zulmira numa sua outra vida.
Se não vejamos, ela é caricata, irrequieta sobretudo intrometida, gosta de dois dedos de conversa e de bater no zézinho, não admite inconveniência é pertinente e inculta, ou não será a cultura uma forma de polimento colectivo, como poderia a Zulmira ser culta se é avessa a confraternização desenraizada.
Acabei de meter as mãos pelos pés numa conversa de nada, o que raio tem a comadre Zulmira a ver com a minha vida passada.
Depois tem o outro o poeta maldito, diz o que lhe vai na gana, bate no pai e na mana, até bate no coiro da Júlia Soares que é dada a poemas lamechas, tem ainda uma outra com a mania que é gente, escreve a eito tudo o que presente.
Mas que raio de vida poderá ter sido a minha, com tantos outros caminhando a meu lado, já sei, fui um cigano forjado num qualquer peito enlouquecido de moura encantada.
Não me olhem nem se riam, que isto é caso sério, digam lá que pensam vocês das janelinhas simpáticas`` descubra o que foi numa vida passada`` acabei de descobrir fui criança no circo da imaginação e para meu castigo tudo o que penso cai logo no chão.
Esta coisa em que me meti de escrever crónicas a preceito, tiram-me do sério se não vejo mistério na palavra dita, escrever eu escrevo de tudo ou de nada, mas o pior é que me dá brotoeja, faz-me cócegas, porque estou baralhada.
Qual será o efeito que tem sobre si esta parca conversa de mim, uma pobre coitada que embirrou com o que foi numa vida passada.
 Beijocas até um dia destes.



Como é sabido o umbigo é uma cavidade mais ou menos airosa, que ornamenta as barrigas, mais ou menos salientes. Há ainda quem lhe chame Embigo, sinceramente gosto mais da ultima expressão ´´Embigo`` acarreta-me a palavra algumas recordações pré natais.

O Embigo rosadinho ou castanho é quase sempre sinónimo fantasmagórico de cotão, aliás é por causa do cotão que a palavra umbigo veio ao mundo, uma espécie de cordão umbilical mal cortado, que dá aso a que o olhar olhe sempre na mesma direcção.

De tão viciado o olhar nem repara no cotão, deixado pelo colchão de um egocentrismo inimaginável, mas palpável. Ou não fosse o eco um dos segredos segregando palavras de erotismo aos neurónios extasiados.

Embiga-te para lá, Embiga-te para cá, assim passa os dias e os anos a saliência arredondada e fruto de tantas caricias mal divididas, é que as nádegas por exemplo, também elas mais ou menos arredondadas morrem de ciúmes do Embigo, não compreendem porque quase sempre são deixadas para trás, e os olhos só esporadicamente as olham de esguelha. Outras das partes que sem apartes se sentem diminuídas perante o Embigo, são as cabeças dos dedos. Claro, de todas elas, só as dos dedos mindinhos se conseguem esgueirar até ao fundo da cavidade redondinha, para assim surripiar à socapa o cotão malcheiroso que os olhos teimam em esquecer.

Há quem afirme convincentemente, que se não fosse pelo Embigo metade dos animais não existiam à face da terra. Eu voo mais longe e afirmo, se não fosse o Embigo de que servia o estuque, de que volta e meia os olhos se socorrem para reafirmar as pálpebras, ou então os óculos de sol de um castanho mel que servem para encobrir as olheiras mais ou menos cinzentas, deixadas pelas noitadas a admirar o Embigo.

Certos Embigos há uns tempos a esta parte dão uma enorme dor de cabeça aos olhos, é que os desgraçados teimam porque teimam que querem um piercing. Os olhos coitados já desgastados lá vão avisando que o piercing fica muito melhor na ponta da língua, e que assim sempre que a mesma se contorcer numa multilíngua com o buraquinho redondinho, a satisfação será redobrada, mas não há quem convença o Embigo, de tão convencido que está, de que é o centro do mundo, quer porque quer um piercing.

Agora os olhos estão em trabalhos de parto para que assim se faça luz, e que esta consiga dar alguma visibilidade ao buraquinho, mais ou menos redondinho, que existe entre a cartilagem dos abanicos, ou seja das orelhas. Os olhos sonharam um dia destes que talvez com uma maior visibilidade, o buraquinho que conduz ao nervo auditivo consiga desviar a atenção do Embigo para os neurónios, e o dono dos mesmos se dê finalmente conta, de que de tanto olhar para o buraco sem se preocupar com o cotão, a criatura perde metade da vida, e a outra metade é perdida a tentar esquecer a caricatura da mesma.

E a culpa de quem é?  

Do sexo a que o dito cujo está sujeito, claro está!


Nexo sem sexo



Estou numa enrascada está mais que visto, comecei as novelas pelo telhado, quem me mandou iniciar as publicações na ultima semana do mês, para piorar as coisas quem me mandou falar de sexo logo na primeira crónica, ó santa ignorância ainda por cima prometer voltar ao tema com mais tino na vez seguinte. Ah, vocês não sabem, comprometi-me a escrever sobre o mesmo tema durante um mês, uma espécie de estágio programado com intervalos semanais, é uma mania minha, esta de prolongar o pensamento durante oito dias, ficou-me este hábito enraizado à conta de tanto ouvir a minha avó dizer.- Filha uma vez por semana é a conta certa, nem mais nem menos. – Estão a pensar o quê afinal! A minha avó referia-se às vezes que podia comer chocolate, apenas isso. Voltando ao tema desta vez vou falar sobre o sexo do nexo.

Eu explico, gosto de ver a maneira assoberbada com que os nossos dirigentes ´´politicos´´nos impigem as medidas necessárias, ainda há dias li num dos jornais diários que o número dos bolseiros universitários desceu novamente este ano, e a culpa de quem é, do sexo claro está, raciocinem comigo, todos sabemos que nas semanas académicas a temperatura sobe ao rubro, ora se todos os alunos tivessem uma avó como a minha, não passavam tantas horas sem dormir nessas semanas, já para não falar na recepção ao caloiro, uma verdadeira tormenta, imaginem o regabofe que é, semanas inteiras de praxes completamente sem nexo, escrevi nexo que fique claro, eu sei a língua portuguesa é traiçoeira e leva a mal-entendidos, voltando aos caloiros, já viram as figuras ridículas a que os coitados são obrigados, à conta de alguns iniciados a doutores, que os obrigam a andar de gatas no meio da rua. De gatas, claro quando vêem uma menina de gatas o que é que os rapazes pensam, em sexo sem nexo, parece rastilho em pólvora, resultado menos bolsas atribuídas este ano, a explicação para o facto foi “não inscrição atempadamente ou incumprimento de 60% de aproveitamento obrigatório por parte dos candidatos,´´ coitados e a culpa de quem é do nexo, porque sexo sem nexo nem é carne nem é peixe, é uma mistura duvidosa que deixa travo na boca na manhã seguinte, e o pior de tudo é a dor de cabeça e a pala que o pessoal precisa de se socorrer para que os outros, ou seja as avós não descubram que foram com muita sede ao pote.

Não perceberam nada da conversa, pois não? nem eu, para a semana há mais, prometo.



Falando de sexo



Nada melhor para começar um novo apontamento, neste caso colunista ou malabarista, tanto faz, do que falar de sexo. É certo e sabido que sexo vende, senão vejamos.

Em televisão só se fala de sexo, no futebol o sexo anda de boca em boca, até o padre na igreja fala de sexo. Tudo passa pelo sexo nos dias de hoje.

Olhe que eu estou a ver esse sorriso trocista, mas as pedras são boas a contrapor. Quer um exemplo.

Uma noite destas frente ao televisor observei o decote da Pivô, também observei os olhos brilhantes do entrevistado, pareciam duas azeitonas e o melhor de tudo foi quando a menina argumentou, - É ou não verdade Sr. Silva que adormece logo a seguir. - O coitado ia tendo um enfarte, estavam a falar de morte, o entrevistado era cangalheiro, o bom do homem respondeu,- Nem sempre.- Mas a rapariga continuou,- não diga isso a sua esposa confirmou.- O homem ficou verde apesar da camada de maquilhagem com que a produção o besuntou.- Bom às vezes acontece, mas nem sempre, nem sempre,- retorquiu ele engasgado, que até se esqueceu da burra Zulmira.

Um outro exemplo é quando a equipa adversária marca penalti, gritam os adeptos contrários em coro. – Filho da puta , vai f….der a tua mãe, ora querem sexo mais explicito que isto, e ainda por cima é incentivo ao incesto, um pecado mortal por sinal, e diz o padre na missa.- Meus irmãos, amai-vos uns aos outros, somos todos filhos de deus, Se isto não é sexo, digam lá o que é se conseguirem, é que eu estou farta de dar voltas e voltas à moleirinha, até já estou redondinha, mas não saio da cepa torta, para mim tudo se resume a sexo neste país.

No outro dia o nosso primeiro-ministro disse mais ou menos isto.- Em Portugal anda-se a discutir o sexo dos anjos, portanto como o regabofe é enorme há que lhe pôr fim, como medida proponho, f…der o subsídio de Natal e de férias aos trabalhadores, isto não é uma F…da é uma orgia colectiva. Agora veio o presidente contribuir para o bacanal e disse.

Portugueses a hora é trágica, a Troika mama tudo ou pagamos ou estamos f….dos, querem mais provas que em Portugal no lugar de cérebro temos sexo, o cangalheiro. O bom do homem só quando se estava a deitar passadas não sei quantas horas sobre a entrevista à menina do decote em V da TV, se lembrou, do que ela queria dizer com a conversa do adormecer.

Pois é, tinha-lhe dito que depois de cada funeral levava a burra a passear para os lados da igreja, e que a mesma se entretinha a comer a erva que circundava os degraus da sacristia, ora nem mais, a magana da burra dava dois pinotes assim que via as beatas e corria pela rua fora só parando na porta da taberna, depois dava dois coices e voltava a correr desta feita em direcção a casa, é, era isso mesmo que a magana queria saber, se a burra de seguida adormecia. E a culpa do mal-entendido de quem é, diga lá já que continua a sorrir, do sexo claro, o cangalheiro tinha os olhos no decote em V e o sexo em / pois…

Para a semana há mais, prometo voltar ao tema desta vez com mais tento.



Pedra que rola. (É rola, não é Rôla, ouviram).


Violência nas escolas

Eu fico chocada, como se alguma coisa me pudesse chocar ainda ao olhar para a sociedade que somos.
Estou a falar do caso amplamente divulgado pela comunicação social e pelas redes sociais entre elas e Facebook. A agressão a Filipa, uma criança entre muitas crianças das escolas deste país moribundo. Assim como as agressoras e o responsável pela filmagem do acto de violência gratuita.
Assim os quatro jovens, a vítima com apenas treze anos de idade, são nada mais nada menos que fruto de uma sociedade que se destitui de valores morais.
Tenho um filho de trinta e dois anos que frequentou uma das melhores escolas públicas na altura, A Marquesa de Alorna em Lisboa, apesar de ser uma das melhores, já nessa época havia problemas de vandalismo e agressão por parte de alguns alunos aos respectivos colegas.
Na primeira semana que o meu filho frequentou essa escola, vindo de uma pacata escola primária da capital nas avenidas novas, uma pacata zona residencial onde as pessoas viviam seguras podendo andar pelas ruas fosse a que horas fosse, coisa que neste momento já não bem assim, nessa primeira semana o meu filho foi assaltado, roubaram-lhe os livros e a mochila, nunca se soube quem foi, passado algum tempo sobre o furto, uma coleguinha do meu filho foi baleada junto aos muros da escola, segundo constou por elementos mais velhos que frequentavam a escola e que andavam metidos na passa, tudo isto se passou há mais de vinte anos, numa escola da capital, uma das melhores da altura.
O que eu quero dizer, é que a violência nas escolas, não é de hoje, é de ontem. O que eu quero perguntar é o que é que nós, sociedade civil, que somos pais, familiares ou professores das crianças de hoje, o que é que fizemos ao longo de décadas para aniquilar este problema.
Nada, ou muito pouco.
Fomentamos essa mesma violência, dando exemplos de violência em estádios de Futebol, nas estradas, quando vamos ao volante do nosso automóvel e nos sentimos os reis da cocada preta, só porque o vizinho da frente aplica os limites de velocidade impostos por lei, e nos atrapalha na nossa corrida infernal contra a vida.
Damos maus exemplos ao perder as estribeiras por dá cá aquela palha, em casa, na rua, seja onde for, mas o pior de tudo é que deixamos de incutir valores nas nossas crianças, damos-lhe mais um telemóvel ou uma consola para os compensar da nossa falta de atenção e de resguardo.
Antigamente as pessoas eram pobres, alguns pediam de porta em porta para comer, conheci alguns, que hoje são pessoas de bem, não se refugiaram na pobreza para desculpar vandalismo ou violência. Não utilizaram a pobreza e a carência de vida para fomentar violência.
É isso que hoje nos falta, carácter.
Mete-me confusão como é que as pessoas ao comentar esta notícia nas páginas dos jornais, vem com frases tipo (eu sabia o que lhe havia de fazer, cortava o dedo de quem fez a filmagem) afinal é um marginal de dezoito anos e as duas agressoras são marginais de dezasseis e quinze anos.
Afinal estes jovens são o reflexo daquilo que os tornámos, mas descartamos como se os homens e mulheres de hoje neste país, não fizessem parte desta sociedade repugnante em que nos estamos a tornar.
Afinal que podem esperar de nós as crianças e os adolescentes deste país, morem na zona da Expo ou um pouco mais ao lado numa das trinta e seis zonas problemáticas de Lisboa.
Ou noutro canto qualquer neste canto que é Portugal.


 Politiquice
Eu fico arrepiada, perguntarão porquê, pela falta de responsabilidade dos políticos nacionais e de alguma comunicação social.
É certo que estamos em crise, que veio um grupo de especialistas  com um olhar lúcido sobre um país catastrófico e acomodado. Senão vejamos.
Os homens vieram e apontaram uma a uma as úlceras de que sofremos, mas não era preciso terem vindo, há muito que meia dúzia de cidadãos honestos deste país tem vindo a apontar esses mesmos erros, mas a comunicação social os políticos e sindicalistas sempre os calaram, para agora fazerem dos homens da Troika os salvadores da pátria.
Os políticos, esses causam-me uma agonia constante, a sua memória é tão curta que qualquer rato de laboratório a tem muito mais exercitada, eu vergo-me a cada programa de governo agora apresentado pelos diversos partidos, a cada declaração política, como se os homens da Troika não o tivessem feito, vergo-me ás conversas nos mais diversos canais de televisão que vendem postas de pescada como se fossem linguado. Ora bem, por acaso julgam que o povo é burro, que o povo não sabe que quem ganhar as próximas eleições tem que seguir à risca o programa de governo apresentado pelos senhores da Troika, tendo uma margem de manobra muito curta para alterar seja o que for nesse mesmo programa, por acaso acham que o povo se esqueceu de quem os governou nos últimos trinta anos, ou já esqueceu as oposições que sempre tivemos na sua maioria irresponsáveis pelo facto de saberem que nunca chegarão a ser governo.
Vergo-me porque a irresponsabilidade chega a ser irreal. A nossa classe política continua a chafurdar na arrogância, meus senhores ou mudam essa visão estratégica ou o país cai mesmo na banca rota daqui por algum tempo. E depois deixa de haver carcanhol para a cervejinha e o pastel de bacalhau.
Eu fico ainda mais vergada com os discursos dos membros do PSD, na sua maioria a cheirar a mofo, do CDS todos esperamos mais do mesmo, mas até que não se portou nada mal durante as negociações com a Troika, ao contrário do PSD que meteu os pés pelas mãos na sua sede de poder, fiquei sobremaneira desiludida com o Bloco e o PCP, que lição de vida damos às gerações mais novas quando incentivamos o país a não pagar a sua divida externa, divida essa que serviu para que todos nós vivêssemos acima das nossas possibilidades e andássemos a gastar aquilo que não tínhamos. O país está como está e a culpa é dos políticos, sem dúvida, mas a responsabilidade é do povo, que esqueceu a sua condição de povo e desleixou-se ao não exigir que os políticos fizessem aquilo para que são eleitos, ou seja gerir o nosso suor e o nosso dinheiro de forma honesta e coerente.
Portugal tem um país dentro de outro, tem um estado obeso que mal ou bem lá tem tratado da vida, posso dizer sem medo de errar, que uma forte fatia dos organismos públicos está neste momento a manter trabalhadores sem ter trabalho para lhes dar, quantas comissões disto e daquilo estão às moscas, em tempos serviram o país tiveram um papel especifico no seu desenvolvimento, mas hoje deixaram de ter utilidade não tem perspectivas e não se souberam adaptar às novas realidades, depois temos funcionários de atestado metade do ano, porque não sabem qual vai ser o futuro, temos também ali ao lado uma qualquer repartição que sofre de asfixia pela falta de pessoal. Mas estou satisfeita com o programa da Troika esses cancros vão ser suprimidos, esses e muitos outros, apenas quis dar um exemplo.
Mas vivo em agonia permanente alternativas viáveis perante os discursos da classe política em campanha eleitoral não existem, o Engenheiro Sócrates meteu os pés pelas mãos, é trafulha e arrogante, mas o povo sabe que o homem até tinha umas ideias que talvez tivessem resolvido alguns dos cancros do país a seu tempo, mas também sabemos que as oposições e os sindicatos não deixaram, até mesmo dentro do PS se levantaram vozes contra, ainda agora continuam a haver greves, não sei bem para quê em plena campanha eleitoral, o pais está atulhado de regalias e mordomias que alguns vão ter muita dificuldade em deixar, são esses mesmo que hoje dizem que sim e amanhã dizem que não, como se não tivessem que cumprir um programa de governo que uns quantos senhores bem-parecidos cá vieram deixar, porque os nossos políticos estão tão agarrados ao poder e às mordomias que o mesmo lhe concede, que não tiveram coragem de implementar as medidas necessárias para alterar os destinos de Portugal, e nós o povo nos desleixamos na nossa responsabilidade de exigência.    
Estou agoniada sim, onde está a alternativa que esta crise política exige, é nula, todos nós somos doutorados em demagogia simplista devemos isso à maioria dos nossos políticos e à comunicação social, todos nós sabemos que para cumprir o programa de governo que os homens da Troika cá deixaram é preciso alguém com garra e que saiba levantar a cabeça sempre que levar um murro no estômago.
Por isso, meus amigos estou agoniada, não tenho alternativa. Ou melhor tenho despeço os políticos e chamo de volta os homens da Troika, se calhar exigem-me menos ordenado e não estão à espera de ter duas reformas a seu tempo, também devem suprimir metade dos gastos com representações, e outros tantos em publicidade enganosa. Que lhes parece.


O colo de um gesto
Com o Natal que se aproxima, aproxima-se uma corrente de bem parecer, perdemos-nos a enviar cartões de boas festas virtuais para todos aqueles que compartilham esse mesmo espaço, são gestos repetitivos ao longo dos anos, todos os anos os mesmos dizeres e os mesmos olhares, não que seja contra esta forma de convívio e este preocupar constante com todos os nossos amigos, virtuais ou não, gosto de receber estes agrados, embora confesse, que não sou muito afoita a eles, melhor dizendo, não lhes dedico muito tempo, para mim a intenção perde-se no repetitivo e torna-se monótona, por essa razão normalmente envio próximo do dia de Natal a minha mensagem. Não estou a criticar quem ocupa o tempo a fazer passar estas mesmas mensagens, nestes mesmos gestos repetitivos que se tornam a meu ver monótonos.
Gostaria contudo de alertar os meus companheiros de escrita, e todos aqueles que por aqui andam, para as armas que temos nas mãos, a escrita e a imagem, e para o uso que poderíamos fazer delas nestas alturas festivas, sei que dói e é incomodo olhar os males do mundo, nestes períodos que se querem de amor e união. Existirão contudo melhores alturas que estas para alertar consciências, existirão oportunidades melhores que estas, para darmos com amor e altruísmo o que melhor sabemos fazer, ou seja escrever. Não sou utópica e sei que será um fio de fumo branco por entre a maldade e a arrogância, mas sei também que a Internet é uma arma poderosa, e que temos nas nossas mãos o poder de moldar mentalidades, acho que a maioria daqueles que escrevem nem se apercebem da arma que tem ao seu dispor. Vejam o que aconteceu com a campanha lançada sabe-se lá por quem, em que durante um período de tempo todos os membros do Facebook deveria utilizar como foto de perfil um boneco animado, vejam como em dias as páginas do Facebook viraram uma coreografia Disney.
Porque não na quadra Natalícia de 2010 olharmos aquilo que não gostamos e fazermos passar a mensagem de um mundo melhor mesmo que utópico, porque não fazer das páginas do Facebook um cartaz de alerta. Mesmo que não gostemos de imagens violentas e de palavras de dor, porque não dar àqueles que não podemos carregar no colo, o colo de um gesto.
Uma imagem, um texto, um pequeno gesto.



Património Histórico de Montemor-o-Novo

Por vezes dói-me o cansaço, ou melhor, dói-me o olhar cansado pelo abandono do património histórico, que nos viu crescer.
Um destes dias fiz um passeio por Montemor-o-Novo, coisa que já não acontecia há algum tempo, a nostalgia assolou-me, e trouxe-me à memória outros tempos, tempos em que a então vila se encontrava de cara lavada.
Montemor-o-Novo tem um vasto património histórico, na sua maioria de aspecto desleixado, direi mesmo de abandono, a começar pelo eterno problema das muralhas, que circunscrevem o castelo, que imploram que o Inverno este ano não seja rigoroso, passando pelo centro histórico, que precisa de intervenção rápida, subindo um pouco pela memória, temos a igreja da Nossa Senhora da Visitação, estando, é preciso que se diga, cuidada e arranjada no seu interior, o mesmo não se pode dizer do espaço exterior, a imponente escadaria de acesso ao local é retrato disso mesmo. Da outra que está no planalto defronte, Nossa Senhora da Conceição, os olhares já se esqueceram há muito do espaço envolvente.
Dói-me o cansaço de ver que uma cidade toda ela virada para a cultura, não cuida da sua história. Dir-me-ão os defensores não sei bem de quê, que a maioria destes monumentos, estão sob a tutela de entidades que se esqueceram das suas responsabilidades, para com as gerações vindouras. Direi eu, muito mal vamos, se não sabemos cuidar da nossa casa.

Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo