quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Para sempre



A esperança se envolve num manto de segurança
Aprendo com ela a atrair bonança
Nos dias intranquilos em que viro onça
Ai, tamanha pertinência a minha, rainha
De coisa pouca mas fico rouca ao gritar
Parem… recuso-me a olhar a minha condição
Afinal tenho o mundo na minha mão.
Doidice vencida de repelão
Nada com nada tão grande aflição

A que me leva a gritar
Porquê?
Porque me julgo sem julgar
Me olho sem olhar
Penso e repenso sem me escutar
Meu pobre coração aguenta
Os olhos cansados ainda vislumbram a minha imagem
Tosca no fundo da bacia onde a água fria segreda

Deixa de que vale perder tempo
O tempo é cúmplice num contratempo
Em que a terra chama e a voz se cala
Para sempre no vento.

Aos meus pés


Aos meus pés descai um rio insidioso
Nos socalcos das margens o percalço
De um momento sem nome.
Todos os momentos carecem de nome

A dor de cabeça o momento actual
Nas costas o ontem infernal
Olhar nublado quase sempre é passado
Diferente um futuro almejado

A meus pés um país periférico
Retalhado de verde e vermelho
O verde da serra frescura sadia
Rubro da cidade numa ventania

Um rio insidioso é o que vejo
Sempre que presto atenção
Aos passos que passam, um desejo
No olhar e no coração

Gente faminta de crença passa e não pára
A criança que chora, o homem de samarra
Uma viúva com filhos pequenos tem fome
O rapaz desengonçado que esqueceu o nome
Como me dói aquele velho acolá
Um outro ao deus dará.
Como dói uma terra sem prumo
Como eu queria ofertar-lhe o rumo

Num poema escrito ao contrário
Igual a bebé no berçário
Costas para cima, a cara de lado.
Almejo roubar-te povo esse teu fado.

sábado, 4 de agosto de 2012

Espelho



Ao sol tórrido de Agosto um cão vadio se abeira
Ignoro enfastiada o seu andar pesado
O abanar de cauda num gesto faminto implorando
O quê? Atenção, comida, quem sabe tem sede
Cão vadio, não passa disso cogito enfastiada.

Dou dois passos em frente mas logo recuo
Afinal o cão é simpático, tem olhar doce
Estico a mão com a incerteza aflorando
Morde ou não morde questão pertinente
À minha mente dolente extenuada

Pelo sol de Agosto, os raios incidem no cão
De um castanho mel com o mel no jeito de olhar
Penso e no meu pensar se reflecte o reflexo
De uma alma com fome triste penar
Afinal já o vejo simpático dá que pensar

A primeira impressão pode ser teatro
Quase sempre encenado pelas evidências
Num cão vadio o espelho reflectido
De uma lida vasta de pertinências.





quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Rumos


Rumos, a orientação sentida
Ontem ruíram na avidez
Da palha que arde, um fogo lento
Percurso insidioso na pequenez
Que à nascença vestimos de oferenda
Intercalando um breve momento

Em que nos sentimos grandes

Rumos hoje se ergueram
Castelos de sonhos
Musicalidade em ostentação
Espigas férteis em grandes molhos
Fontes calmas que água verteram
Assim acalmando o coração

Por instantes tão pequenino

Rumos serão traçado
Por nossa mão desnuda
Outras são presente dado
Que se achega na sina que muda..

domingo, 29 de julho de 2012

Raciocínio


Pobres almas aquelas
Que julgamos inferiores
Acabam por ser julgadas
Tenham ou não valor

Tardou o raciocínio…Tardou
Compreensão inacabada, palavras em atropelo
Quem sabe é o amor novelo
De aflições, furor de alma vencida
Vencida na vida contida sem abrangência

Pobres almas aquelas
Que tentamos rotular
Que não vemos as mazelas
Mesmo dizendo amar.

A Azinheira


Na calmaria da planície
O oásis tranquilo
Era assim na meninice
Brincando a isto e aquilo

Na sombra da azinheira
Os carreiros de formigas
Ganhões em longas fileiras
Sob os ombros loiras espigas

Eu olhava embasbacada
Com tão árdua labuta
Por vezes uma parava
Descansando a astuta

Ai quem me dera que os homens
Se parecessem com as formigas
Loiras eram as paisagens
E o resto são cantigas

Só resta a velha azinheira
Na planície tão cansada
Minha nobre companheira
De uma vida tão mudada

segunda-feira, 16 de julho de 2012

As rugas



As rugas da testa
Assinalam tempo
Vivido, temido
Talvez perdido
Para logo encontrar
As rugas da testa
São riachos
Onde limos verdes
Deslizam silenciosos
Entre seixos caprichosos
Aguardando o pernoitar
Da alma.

As rugas da testa
São minhas e tuas
Finas arestas
De vidas nuas.

Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo