quinta-feira, 24 de abril de 2014

Liberdade...


Por entre os dedos os cravos secos
Nas mãos de calos doridas
Escorrem revoltas, sonhos encobertos
Que até os corvos se riem das feridas

Ai meu país, meu chão, meu sal
Que fizeste do sonho que se ergueu um dia
Reino sem trono a boca vazia
Estômago seco no seco da boca
Ai meu país tudo está mal
E o sonho que conta?

Lá longe onde a memória não trai
Levantaram-se jovens, num dia de Abril
Levaram ao povo os cravos vermelhos
Ergueram-se as mãos e os olhos dos velhos

Liberdade, liberdade!

E hoje onde está o vermelho rubro
A esperança e a igualdade
Onde está o sonho, e aquela criança
Que chora de fome, onde está Abril…

Onde está Liberdade.




terça-feira, 22 de abril de 2014

Estranha paixão

Tenho longas conversas com o silêncio
A solidão senta-se à mesa também
Questiono os dois e mais me convenço
Sou ave liberta que não é de ninguém

Nestas conversas o monólogo impera
Ambos anuem e me dizem que sim
Serei eu que a sorte governa
Ou serás tu que assim te convém

Maldita palavra faca que corta
Que se crava no peito com tal precisão
Derruba a sombra que me bate à porta
E trás ao papel a estranha paixão

Que nutro nas horas sem sinal de vida
Nada acontece no leito vazio
Apenas a luta renhida

Comigo mesma por dias a fio. 


quinta-feira, 17 de abril de 2014

Sentir...

Nas horas em que a saudade aperta
Digo o teu nome baixinho
Questiono a vida e as curvas do caminho
Olho o céu azul, lá no alto o teu rosto
Estico a mão, quero sentir
Os teus lábios a sorrir
A distância é enorme, e o infinito desdenha
Na minha mão o vazio
Coloco olhos ao chão, a mão rente ao corpo
Caminho mesmo cansada
E o vento me traz num sopro
O eco da tua voz, chama por mim em surdina
Assim dou por mim a sorrir
Pois quem não sabe sentir

Na vida vegeta e lastima.


quarta-feira, 16 de abril de 2014

Diga-me

 Diga-me lá você que me lê
Em tantos dias, em tantas horas
De alegria ou solidão
Vem até mim e lê

O que me sai em delírio
O que atiro em declínio
Ou então elevo ao alto
Com espalhafato
Diga-me lá, preciso saber
Tenho a mente desarrumada
Ao escrever
Ou é retórica de alma penada.

Que deixa que a vida lhe fuja apressada.



Palavra...

A palavra é uma arma
Disseram um dia
Entra desvairada
Pela mente vazia

De todas as palavras que atiro
Ao teu cérebro fechado
Deixo nelas o gosto
Do teu pecado (imaculado)

Na minha leviandade
Vivo a tua cegueira
A tua falta de coragem
Em pular a ribanceira

Tal meretriz
Sonho, serei feliz
Claro, trago ao papel
A tua pele

E agora alguém me diz
Qual o preço a pagar
Pelo o diz ou não diz

De versos saber moldar.


Tambor...

O amor que transporto
É muito meu
Nem sequer lamento
Que não seja o teu

Essa falsa certeza
De que o poeta
É infeliz
Veio na correnteza
De olhar petiz

Florbela que foi musa
Infeliz no seu viver
Claro, foi intrusa
No modo de pensar

Outras como ela
Que vieram a seguir
Abriram a janela
Para eu intervir

Hoje sou feliz
Tal como eu muitas mais
Mulheres que o mundo diz
Enquanto tu vens espreitar

Pela calada, corroída
Num lamaçal de vaidade
Olha vai moer o juízo
A quem não te fala verdade.

Porque escrever de raiva ou amor
Nos tempos que vão correndo
É banal, virou tambor

Enquanto vais remoendo…


Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo