quarta-feira, 16 de abril de 2014

Poeta de estrada...

Em tudo o que digo, intento
Desmembro, atiro areia para os olhos
Em altos gemidos
Outras, arrepio caminho

Foi Deus que me deu o condão
De escrever
Cabe a ti a interpretação
Ao ler

Coitados dos burros
Se fossem só ``burros``
Felizes dos espertos
Se não fossem incertos
Bem-aventurados os loucos
Dormem tranquilos
Malfadados os coitadinhos
Tem falta de coragem

Como vês escrevo
Com uma leviandade muito minha
Com vaidade e arrogância
Com carinho e muita dor
De merda, até de flor
Escrevo de olhos fechados

O que desconheces é que falo de ti
Ao escrever de mim
Que falo do medo
Que eu não tenho
Falo de pobres e dos ricos

Aos pobres levo esperança
Aos pindéricos dou a facada
Ou não fosse eu poeta de estrada

Aquela, que corta este país
Onde homens e mulheres
Escrevem o que te desdiz.

E no amanhã, outro que não tu interpreta
Enquanto tu passaste… tão SÓ…




Abril...

Ao abrir os olhos pela manhã
A imagem desce tranquila
Do teto que é branco.
Traz nos olhos saudade
Nas mãos fraternidade
No coração uma bola de fogo

A primeira questão
Que fizemos nós com o quinhão
Que descaiu no colo
Que fiz, ou tu
Com a liberdade

Abri os olhos quarenta passaram
Tantos os molhos de cravos, mingaram…
As mãos agora vazias
Nos olhos, revolta
O coração mais frio que nunca

Ai, como queria que aqueles dias
Voltassem
Num Abril de esperança
Esmiuçassem


A vontade de fazer diferente.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Às vezes...

Às vezes oiço, outras nem tanto
Também falo só por falar
Ou então fico calada, logo
Escrevo, de uma assentada
Sou mal-interpretada
Sou aplaudida, faço disto sururu
Escrevo, para martírio…
Meu.

Se o olhar fosse emergente
Que alegres os meus dias
Escrevo o que vejo, negligente
Seria.

Se a palavra fosse vã
Respirava a céu aberto
Mas era ovelha sem lã
Morreria de frio.

Tudo isto para dizer
O que o poeta um dia disse
Chorar mesmo sorrindo
Fingir ser, e não ser
Fazer do poema um rio

Onde possas lavar as mágoas
Ou seja a tua almofada
Mesmo que sejam adagas
Verdade ou mentira

O poeta é indigente
Outras vezes reticente
É rei e pedinte
Dissimula e empurra

Tudo isto sou eu…




sábado, 12 de abril de 2014

Ilusão


Avanços, recuos. Não vês que são gritos
Na garganta retraio, já não sei
Se fujo de mim, se de ti me afasto
Se é esta vida, cinzento nefasto
Nem quando surge o sol, eu sei

Se o progresso ofertado é real
Ou se é somente vasto areal
Onde a maré vazia ilude o futuro
Sabes, por vezes um figo maduro
Conforma o olhar e nós

Tão secos por dentro tremendo de frio
Renegamos tudo, assim foge o Estio
Tolos, se a vida é só uma de que vale fingir
Que ao saltarmos tudo pode ruir

Avanços, recuos…Uma linha incerta
Nos olhos fechados instantes vincados

Por medo idiota.


sexta-feira, 4 de abril de 2014

Monte...

Cresci numa casa branquinha.
De telha vã, o telhado.
Uma chaminé amarela
caiada a oca.
De terra batida, o chão!

Recordação
de quando criança.
Do vento suão
resta a lembrança.

Uma figueira na rua.
A casota do cão de guarda.
A capoeira onde a perua;
aguarda!...

Casa de pobre, feliz.
Quem me desdiz.
No descampado perdido
o velho monte ferido
implora à vida.

Volta!...
Criança traquina
tráz no peito a vontade
e quem sabe...
Mantenha de pé...

A velha figueira sem figos.
A capoeira sem rede.
A chaminé sem lume.
E afaste os gemidos.

Que a saudade de outrora
crava no barro vermelho.
Serenamente; implora:
Salvem o monte velho.

Cresci num monte caiado...
P`las mãos que ceifavam o trigo.
De pé azul rente ao chão.
Um forno onde cozia o pão.

Hoje; ao recordar o brado
Qque chega no vento em gemido...
Tal como meu monte caído
sufoco na recordação.




quinta-feira, 3 de abril de 2014

Sete pecados capitais


Inveja…

O despeito em gritos surdos.
A alma humana enegrecida.
Falta de horizontes, afligida
pela pequenez dos costumes.
Em gritos!...
O provincianismo cínico
a vaidade
por aquilo que aparenta.
A simplicidade tingida
dos ecos,
que borbulham tal vertoeja
na mente que esperneia

Num retrato completo:
a Inveja.



Vaidade…

Simbiose perfeita
Entre o sim e o não
o ser e o ter
conjugação.
É apelo
repelente, suplemento
da mente.
Sempre mais e mais...
Alarido repetitivo
do eu.

Numa palavra:
Vaidade.


Gula…

Mais e mais
Assombroso sobressalto
nos olhos, papalvo.
O estomago
grita que grita
insaciado, satânico.
Leva à loucura
alarido festivo
uma dor de barriga.
Afinal!...
Emergente.

Em estranha visão
a Gula.


Preguiça…

Aiiiiiiiiii...
Vai que eu não vou.
Reconfortante imagem.
Pura sacanagem.
do corpo.
Tudo me mói.
Estranheza em flor:
que Tarda.
Preso na mente,
desconhece comando.
acaba mingando,
sem força.

Traduzido em miúdos:
Preguiça.


Ira…

O vento que ronca.
P`lo peito que adentra.
Contenda!...
Músculo abrupto
na ponta do braço.
O cérebro
comanda ligeiro.
Sem reconhecer
um ar que lhe dá...
Cerra; afligindo:
Ódio

Tudo isto é
Ira.


Luxúria…

Mel que lambuza.
menina do olho
o cérebro esperneia.
em fétida teia.
Mácula.
Virtude ao contrário
intenta o ser
o ter e o querer.
Na ponta dos dedos
esponja!...
Ensopada no cérebro
em chama.

É assim:
Luxúria.


Soberba…

Ai credo!...
Assim não,
ou mais adiante.
Suspensão
arrogante do ego.
Estima que é
aos pés...
Maior, ou menor
rebento infernal
intemporal
Ao homem (ser)

Está bom de se ver:
Orgulho.


terça-feira, 1 de abril de 2014

Remoinhos.

Ao sentir o vento
O sopro no meus cabelos
Remoinhos, era vê-los
Em dias de primavera

Ai de mim, um dia fui esteva
Perdida no Alentejo
Encruzilha adormecida
Sem ambição que denote
O sopro do vento norte
Fui ave de asa ferida
Até um riacho faminto
Juro, às vezes sinto
Ao recordar a aragem
Uma falta de coragem
Inunda o sentido
Deve ser a saudade
Ou então uma quimera
Remoinhos, era vê-los

Em dias de primavera.

Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo