sábado, 28 de novembro de 2015

Uma quase "Ode" ao Natal do meu tempo. 28/11/2015

Num tempo de estrelas por cumprir
sou refugio de sina sem meta.
Nos ais que me entram porta dentro...
Vislumbro o infinito.
Sou escaparate dos olhares que cruzam a rua.
Mas tudo falta, afinal!...
Na minha alma escasseia a vontade de sorrir.
São as sombras apressadas e galopam sem sentido.
Baluartes destronados em chão de fraco intento.
São as manhãs sobranceiras deslumbrantes…
Aos poucos sucumbem à penumbra do inverno.
E os ais ao cair da noite auguram fantasmas.
Até o amor é tábua rasa, na guerra sem rei nem roque.

Digam que endoideci.
Convençam-me que os choros das crianças, sem pai ou mãe,
são ilusões da minha mente.
Digam-me que me prostitui e que o imaginável é teatral.
Ou espalhafato de ser medíocre.
Digam que endoideci.
Que o Natal que se avizinha é tempo de paz.
Que a guerra será expulsa sem retorno.
E o amor embala nos braços todos os pobres sem tecto.
Digam que endoideci.
Ao gritar só por dizer; palavras de fraco recurso.
Digam…
Que o Natal é ode soalheira!

Mas, não!…
Não me forcem a inventar um paraíso terrestre.
Não me forcem, se eles não existem.
Se me entram porta dentro em noticias monstruosas…
Fantasmas que julgava extintos.
Lá por ser Natal, não se cumprem os reflexos das luzes cintilantes.
Não se cumprem as prendas que o dinheiro pode comprar.
Muito menos…
Nos cartões de um Natal frio, a metade da humanidade.

Jesus nasceu num dia a cumprir…
Está esquecido numa bala perdida.
No rasto de sangue de uma criança mutilada.
 Até num chat… na conversa da treta.
Andam os homens perdidos em costumes sem miolo
e os gritos, encurralados no entalhe do tempo.
Estou afastada de mim e de ti.
De tudo o que não entendo.


Quem sabe… não reste pedra sobre pedra
e se cumpra no virar da esquina…
O fim dos tempos.
Quem sabe…
Às almas que lhe resta?
A nudez de sentimento ou a escassez de amor.
O receio não é clarividente…
Onde fica o sabor?
De um Natal de costas voltadas…
 Num mar de espuma.
Onde as crianças morrem sem paz!

E ao meu país, palco de teatro enraivecido,
lavado na enxurrada, da qual resta a alma portuguesa.
Que lhe resta?
E tu, meu amor esquecido, meu ombro, meu refugio.
És também meta por cumprir!
Sou eu; mulher por descobrir em filhos paridos a ferros.
E a rua lá fora, onde já cheira a Natal,
não passa de uma rua sem rosto.
O oposto ao que afirmo amiúde!...

Arrasto esta ladainha agonizante.
E canto num hino de Natal
o que não vejo. Finjo que não sei.
Até finjo orgasmos para que tu sorrias.
Assim: dissimulo os receios da humanidade.
Oferto em bandeja de prata ilusões que venero.
Hoje…
Estou cansada de um jeito teatral, próprio à ilusão.
Bato com a porta à utopia.
Bato com a porta, porque é Natal.
É tempo de dar um nome ao impossível,
E tempo de perfilhar todos os bastardos do mundo.
Sem credo, religiões ou ambições.
É tempo de unir as vozes, as vontades, os olhares.
Unificar a mesma direção.
De obrigar os senhores do mundo a investir na paz.

É tempo!...
De dizer basta:
É preciso gritar com uma convicção infantil.
Como quem desembrulha uma prenda na noite de Natal.
E no sapatinho redescobre a Estela de Belém,
desnuda e serena.
Basta!

Gritar só por gritar, não chega!...
Despem-se os corpos e cobre-se o cérebro,
com mantos opacos, onde o sol não penetra.
As opiniões mutiladas em credos enegrecidos,
são arrastões. Pelo prazer de arrastar.  
Nos rebanhos de ovelhas pachorrentas
escasseia a lã.
Tosquiam-se nos telejornais as memórias,
os sentires e até o medo.
o som das palmas, as costas voltadas,
enegrecem a ambição de um amor maduro.

Porque me aflige o que a ti não importa?
A julgar o ultimo dos poetas.
Logo ali; o ponto final.

Todos os versos a construir são fuinhas.
Aos olhos de quem chora.
Não quero que me lembrem a fome que não tenho,
o medo que não vivo. A pobreza de que reino…

Não quero lágrimas de sal, veneno dos dias…
A mordaça de uma burca.
No rosto descoberto ao possível…
Muito menos; quero compaixão.

Vês: como é facilitador o poema sem rosto?
Onde se encaixa a superficialidade do sentir.
Até o corpo se passeia heroicamente; falando.
Mas é natal… é tempo de questionar o vazio.

Viro as costas a 2015, afinal… é Natal.
Bailo sem receio à sombra das labaredas.
Até trouxeram a paz.
Só porque é Natal.
Oferto beijos, muitos beijos ao ar…
Esqueço, só por esquecer… uma só noite.
Mesmo assim:
O mundo não pára e na noite de Natal…
Vai morrer um irmão.
No seu sangue que cobre a areia do deserto,
em que o mundo se tornou,
emergirá Herodes.
E a andorinha que apagará o rasto da dor,
surgirá nuns quantos proscritos, aos teus olhos.

Natal!...
Sem eira nem beira.
Sem paz, sem força.
Natal que deve ser dos pobres.
Cobre com a alvura da neve e a velocidade de uma estrela,
este ano de 2015.
Amanhã; quem sabe:
Possa sorrir um menino em Belém!







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