Sou uma pobre poeta
sem ter onde cair morta
sem ter onde cair morta
mesmo andando em linha recta
a curva me bate à porta.
Quatro versos pequeninos
deles faço o meu destino
embora sejam franzinos
são a capa de burel
que teço em tear de menino.
São Samarra de ovelha negra
os pés e os sapatos
sobre as pedras a granel
rasgam as solas dos pés
quando correm em viés
as rimas são como o mel
P`las planícies alentejanas
são gaiatas as maganas
frias como a mortalha
frias como a mortalha
São foice e são navalha
cobrem a terra de sangue
de manhã ao por do sol
tristes rimas são lençol
com buracos na largura
no comprimento a fissura
onde falta claridade.
Ser poeta: Que vaidade!
sempre que me olho no espelho
que de tão frio e matreiro
finge que não me vê
vá-se lá saber, porquê!…
Mas que horrível criatura
esquece que é desventura
esta sina endiabrada
os meus versos são a estrada
que me levam a nenhures
enquanto a alma vagueia
Por mundos nunca vistos!
Diga lá se é capaz
de contrariar a contenda
estas rimas são cartaz
correndo ladeira acima.
É muito mais do que sina
comigo dormem na cama
mas se julga que me engana
vive no mundo da lua
esteja vestida ou nua
quem leva a melhor sou eu
escrevo versos como milho
em capoeira de terra
sou eu quem manda na safra
seja qual for o sermão
meus versos de mão em mão
vadios pelas ruelas
ou em belas caravelas
galgando o oceano…
Sonetos embaciados
outras vezes são brocados
se os escrevo a preceito
os meus versos são pecado
de columbina arisca
quem não arrisca… Petisca?
são pelintras, são engano
são tudo o que eu quiser
eu e eles mano a mano…
Só servem pra meu prazer!
São a dor e
o crer
num mundo Destrambelhado
na minha
alma são fado
um malmequer
amarelo
o que é que eu hei-de fazer
à arisca
criatura
meus versos
são desventura
nos dias
frios de inverno
no verão são
o inferno
quarenta graus
de calor
dos pobres
são o clamor
dos amantes
a paixão
andam sempre
em contramão
malditos como
um exame
mesmo que
haja desmame
voltam sempre
ao mesmo sítio
o meu peito é
o postigo
das estrofes
endiabradas
tal a corça pelas serras
galgam vales
e outeiros
já viram
como são matreiros
canto até à
eternidade
inchada com
a vaidade
de rimar até
mais não
que não haja
confusão
è tudo o que
lhes peço
não julguem este verso
está
igual ao dia...
Olha a nuvem,
quem diria
que se
atreve a tapar o sol
esta contenda
é paiol
dinamitado com
garra
se não fosse
triste a farra
seria opereta
na praça
mas aí... perdia a graça.
É melhor
arrumar as botas
já que as
ideias são tortas
de paz e
amor carece
verso
que não enaltece
mas para ser
curta e precisa
de quatro
versos composta
deve a rima ter sentido.
Tudo o que
tenho vivido
é bitola e é
peão
roda em
qualquer chão
olha mesmo
sem ver
faço versos
por fazer?
Talvez sim… ou
talvez não…
Mas que
grande confusão
começa a
perder o sentido
olha… é tão
fraco o gemido
que chega no
vento suão
mesmo assim
é de um irmão
que tal como
eu é poeta
homem rude,
calejado
no Alentejo
gerado
das quadras fez
sua sina
quando eu
era pequenina
ouvia-o
embevecida
dele tomei a
medida
o fio-de-prumo
a bitola
jamais darei
esmola
em qualquer rima
ensebada
este saber é
enxada
da cultura
popular
por isso vou
me calar
que os
versos respiram, estão vivos.
no vento são
os carpidos
de um povo
aventureiro
de cunho
nobre e certeiro
escreve baladas
com dor
nas mãos se
esvai o suor!
Aqui vos deixo um pedido
em verso triste, fuinha
não deixem perder o sentido
da poesia popular
ajudem-na a ser rainha
por mais pobre que seja o vestido
No Alentejo... é sonhar!
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