quinta-feira, 8 de junho de 2017

Isto sou eu a pensar...


Sou uma pobre poeta
sem ter onde cair morta
mesmo andando em linha recta
a curva me bate à porta.

Quatro versos pequeninos
deles faço o meu destino
embora sejam franzinos
são a capa de burel
que teço em tear de menino.

São Samarra de ovelha negra
os pés e os sapatos
sobre as pedras a granel
rasgam as solas dos pés
quando correm em viés
as rimas são como o mel
P`las planícies alentejanas
são gaiatas as maganas
 frias como a mortalha
São foice e são navalha
cobrem a terra de sangue
de manhã ao por do sol
tristes rimas são lençol
com buracos na largura
no comprimento a fissura
onde falta claridade.
Ser poeta: Que vaidade!
sempre que me olho no espelho
que de tão frio e matreiro
finge que não me vê
vá-se lá saber, porquê!…
Mas que horrível criatura
esquece que é desventura
esta sina endiabrada
os meus versos são a estrada
que me levam a nenhures
enquanto a alma vagueia
Por mundos nunca vistos!

Diga lá se é capaz
de contrariar a contenda
estas rimas são cartaz
correndo ladeira acima.

É muito mais do que sina
comigo dormem na cama
mas se julga que me engana
vive no mundo da lua
esteja vestida ou nua
quem leva a melhor sou eu
escrevo versos como milho
em capoeira de terra
sou eu quem manda na safra
seja qual for o sermão
meus versos de mão em mão
vadios pelas ruelas
ou em belas caravelas
galgando o oceano…
Sonetos embaciados
outras vezes são brocados
se os escrevo a preceito
os meus versos são pecado
de columbina arisca
quem não arrisca… Petisca?

são pelintras, são engano
são tudo o que eu quiser
eu e eles mano a mano…
Só servem pra meu prazer!

São a dor e o crer
num mundo Destrambelhado
na minha alma são fado
um malmequer amarelo
o que é que eu hei-de fazer
à arisca criatura
meus versos são desventura
nos dias frios de inverno
no verão são o inferno
quarenta graus de calor
dos pobres são o clamor
dos amantes a paixão
andam sempre em contramão
malditos como um exame
mesmo que haja desmame
voltam sempre ao mesmo sítio
o meu peito é o postigo
das estrofes endiabradas
tal a corça pelas serras
galgam vales e outeiros
já viram como são matreiros
canto até à eternidade
inchada com a vaidade
de rimar até mais não
que não haja confusão
è tudo o que lhes peço
não julguem este verso
está igual ao dia...
Olha a nuvem, quem diria
que se atreve a tapar o sol
esta contenda é paiol
dinamitado com garra
se não fosse triste a farra
seria opereta na praça
mas aí... perdia a graça.
É melhor arrumar as botas
já que as ideias são tortas
de paz e amor carece
verso que não enaltece
mas para ser curta e precisa
de quatro versos composta
deve a rima ter sentido.
Tudo o que tenho vivido
é bitola e é peão
roda em qualquer chão
olha mesmo sem ver
faço versos por fazer?
Talvez sim… ou talvez não…

Mas que grande confusão
começa a perder o sentido
olha… é tão fraco o gemido
que chega no vento suão
mesmo assim é de um irmão
que tal como eu é poeta
homem rude, calejado
no Alentejo gerado
das quadras fez sua sina
quando eu era pequenina
ouvia-o embevecida
dele tomei a medida
o fio-de-prumo a bitola
jamais darei esmola
em qualquer rima ensebada
este saber é enxada
da cultura popular
por isso vou me calar
que os versos respiram, estão vivos.
no vento são os carpidos
de um povo aventureiro
de cunho nobre e certeiro
escreve baladas com dor
nas mãos se esvai o suor!

Aqui vos deixo um pedido
em verso triste, fuinha
não deixem perder o sentido
da poesia popular
ajudem-na a ser rainha
por mais pobre que seja o vestido
No Alentejo... é sonhar!





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