quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Dizem é política...

Olho em redor e vejo alheamento!
Os olhares são vagos, olheiras fundas,
os ombros, pesam toneladas.
Até os sorrisos estão tão gastos!
Olho em redor e o meu país definha.
Num Setembro macambúzio.

Na TV tudo entretém!
Enquanto uns tantos mentem,
utopicamente, mas mentem.
Dizem, é política!

Num festival de entretenga e de mentira,
reina uma inercia passiva!
Olho em redor… é a circunstância destrutiva:
enquanto nos olhares desabitados,
todos os sonhos hibernam!

domingo, 27 de setembro de 2015

Secarei todas as palavras de amor...

Secam-se em mim as grinaldas!
Não passam de fantoches aos meus olhos,
seca o amor, enquanto alguém morrer…
De fome… de medo… ou de frio…
Mas que abandono em estendal!

Perdem a graça todos os poemas
sem atitude.
Não fazem sentido abraços mão na mão,
não, não fazem.
Grosso modo: sou ignóbil ao meu tempo;
vaio o que não entendo.
Grosso modo: nem só o amor procria,
da indiferença  brotam raízes.

E um dia ao olhar o horizonte,
tudo o que avistas são cruzes.
Por isso mesmo:
secarei todas as palavras de amor,
em poemas que são farpas;
espetadas  lentamente.
Assim, sem mais nem porquê,
num tempo intransigente com a vida.
Dou prioridade às farpas!

Seria eu vendilhão do templo,
se me vendesse por uns trocados…
Palmas… muitas palmas!
Beijos… tantos beijos!
Abraços em demais amasso!
Jamais quero na mão o que não entendo,
neste palco de cabeça para baixo.
Sou poeta, e como tal:
berro… o cheiro a podre…

Seco… mundo medonho!
Sou poeta de cepa intransigente,
berro ao cheiro a morte.
E ao enxofre da mente
jamais me curvarei.

Ainda assim...

Ignora-me.
Mas também os gritos,
deste povo.
Barro chão!

Ignora a lembrança
da minha pele na tua.
Da minha voz
ao teu ouvido.
O coração!

Ignora o barro,
a terra vermelha,
ou amarelecida p`lo trigo.
A minha feição
de moira fronteiriça.
Com o deserto
o pão!

Ignora-me.
Mas ignora também
a memória que trago
cravada no peito.
Gravada nas mãos
a solidão!

Ignora as lágrimas,
à luz da candeia
dos teus avós.
São as minhas de hoje!
Nas costas a curvatura
que herdei da terra.
Que vastidão!

Ignora-me.
Ainda assim, a tua lembrança
sou eu.
E aquela estória a recordar
te traz até mim!
Tenho ou não tenho…

Razão?

Caso Perdido...

Se eu sair para a rua e procurar nas pedras os abraços,
todos os que esqueci de partilhar.
E nesses abraços corressem rios de águas calmas,
e o teu olhar depositasse no meu rosto, o que não vejo.
Se eu sair, não grites indiferença.

Sim… vai por entre as sombras do jardim
mas leva nas mãos o impossível.
Talvez me torne uma pessoa diferente,
não tão crua, não tão sóbria.
Deposita aos meus pés a ilusão e a utopia,
Estou cansada de ser quem sou!
Traz até mim a fantasia.
Sem ironia.

Mas se eu sair para a rua num dia de temporal,
e secar as lágrimas nos rostos… Com que me cruzo.
Vira-me as costas.
Serei caso perdido, e como tal:
Pretendo ser esquecido.




quinta-feira, 24 de setembro de 2015

O Outono e a Vida..

Uma a uma, tombam as folhas no chão,
por entre o verde resistente.
Penso comigo : gosto de ti!
Do dourado da pele, do cheiro a folhas secas.
Mas o outono é sempre a remissão de qualquer coisa!
Não há como ser diferente.

Tal como as folhas que caem das árvores,
cai aos meus pés a ilusão.
Despeço-me dos dias quentes.
No branquear da cabeça, em passo mortiço…
Tal como as folhas, também a saudade é maré!
Em debandada p`lo chão.

Uma a uma, tombam as folhas no chão,
e no outono de todos os contentamentos,
meu amor: vislumbra-se o inverno.
E com ele se abeiram os dias cinzentos…



segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Ausência...

Desconheces quem sou na sombra fugaz,
de uma qualquer tarde por entre o casario.
Posso ser a terra…ou então serei incapaz
de suster o eco de um espaço vazio…

Sem te olhar a tempo:  por não ser capaz;
apresso o passo … E mesmo assim sorrio!
Tudo em redor me parece fugaz…
Nada se compadece… mas tremo de frio!

Pressinto os raios de sol na opulência,
das luzernas por entre a sombra.
Não… Não te percas nos meus passos:

como me perco a adivinhar os teus.
Sou o que resta de uns quantos beijos,
na pacatez de uma estranha ausência.




sábado, 19 de setembro de 2015

Nudez de pensamento...

O sal nas mãos, arrepia caminho na visão
das gotículas de suor: adivinha o pensamento!
O sal nas mãos, doí! Na dor transparece a mão
do imaginável. Impropria ao momento…

Que os corpos protagonizam. Será a emoção
salina que ensaia a maturação, e o alento
da paixão, arriba, que  logra determinação.
Apenas a nudez, não é nudez, é o centro!

Centro de todas as atenções, o espalhafato!
Moinho de muitas Mós onde o vento esperneia!
O sal nas mãos retrai, chega a ser caricato.

A dança que o corpo protagoniza. Além dança
a matéria, e na matéria um leão esfaimado,
onde todas as modas se saciam em pujança.




Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo