quarta-feira, 31 de agosto de 2016

As nossas conversas...

Fala comigo; nas palavras traz melodia.
Dança comigo; mas nos passos traz as asas.
Sorri também e oferece aos lábios o dia.
Para que eles se atrevam a desviar as águas…

Correm nos meus olhos amiúde, maré vazia
por onde os sonhos se esvaem. Catacumbas
imagináveis às quimeras cor de terra.
Ao meu ser insatisfeito. Por outras palavras:

Fala comigo em voz serena. Na embriagues
da descoberta, fala comigo de outra maneira…
Não fales só de açucenas. No solo a languidez

de uma campina em flor. Por isso; sorri à eira
que os nossos passos palmilham e talvez…
As nossas conversas sejam o atear da fogueira.






domingo, 28 de agosto de 2016

Netos dos guetos, isco sem sorte.


Vou colocar a questão.
Em jeito de desafio.
De ti espero atenção.
Na água que corre no rio.

Puseste pé na Buraca,
lá, nos anos oitenta?
Sem sapatos, sem alpaca.
Puseste pé na Buraca?
Onde a braços com a vida,
Se viram para ali jogados,
muitas almas, maltratados,
ao fugirem em degredo.
Do meu modo sem ter medo:
Vou colocar a questão.

E na Cova da Moura,
puseste pé algum dia?
Ou pensas que foi magia,
a vida de quem lá mora.
Fugindo estrada fora,
da morte fria em África.
Vivendo pedindo esmola,
onde prender a razão…
Vou colocar a questão:
Em jeito de desafio.

Ao te entrar p`la casa dentro.
Enquanto jantas, sereno.
Se achas que é só ódio o veneno.
Da morte, vassalo do gueto.
É porque não sabes olhar!
 Nas notícias a gritar,
está a forma de tratar,
gente, igual a gente.
Vou perguntar novamente:
De ti espero atenção.

Já paraste para pensar,
na segunda geração?
Ou na terceira porque não…
Filhos de muito penar.
Sobre indiferente olhar.
De quem lhes abriu a porta.
Os enterrou qual morta…
Em guetos só de betão!
Não delires… Tem atenção,
à água que corre no rio.


Do meu jeito de poeta), parte do olhar sobre os problemas do mundo.




Podes entrar sem bater à porta...

Podes entrar sem bater à porta, basta empurrar…
Sem rodeios de maior, sem galanteio imposto
por uma regra qualquer. De quem teme singrar
através da terra virgem e na falta de arado…

Traz no rosto a surpresa e até a falta de ar.
Ao ver a vastidão onde a mão do ser tem faltado.
Nos socalcos da mente podes vir a desbravar …
Tudo o que a luz revela sem ser pensado.

Ao pormenor de um palco encenado. Actor:
 Não será certamente o sonho, nem a tristeza.
Muito menos a corrente de ar ou onda de calor.

Vamos: Podes entrar num átrio com destreza:
Tudo o que é preciso é crer no reflexo da cor,
através do manto denso e frio da estranheza.




Quando os calos das mãos sangram singelos…

Sou um pequeno átomo sem luz e sem vida.
Uma corsa perdida numa terra a inventar.
Sou de uma singela e fria gota de chuva.
Uma raiz quadrada da existência a enganar…

A falta de caridade. Contradição ou ironia!
Este meu jeito destemido de rumar;
contra a corrente. Afasta-me da lida,
do dia a dia em frenesim; sem se importar!

Se o vento que me acaricia os cabelos…
É do norte ou do sul. Importa-se se é suão!
Ou se os calos das mãos sangram singelos…

Na direção imposta ao rumo de uma mão.
Suspensa num mundo em mil flagelos.
Enquanto que a outra; se afoga na ilusão!


sábado, 27 de agosto de 2016

Falta-me a força…

Falta-me a força à boca da noite,
na iminência que a luz se apague…
Falta-me uma quimera arredia.
Corre atrás de outra fantasia.
E chora!

Não sabe a razão mas chora!
Quem sabe pela coragem perdida.
Pela vontade vendida.
Quem sabe…

Falta o que sempre falhou.
Nem sequer é novidade.
Então: porque me falta a força?
Se na calada da noite:
Encontrarei a paz que o dia negou…


sexta-feira, 26 de agosto de 2016

O pó dos tempos...

A superficialidade acentua a falha.
Falha o humanismo entre iguais.
Um bom dia ao abrir a porta, um sorriso.
Falha interesse sem ser por interesse.
Uma mão estendida, ou uma porta aberta.
Na superficialidade do dia-a-dia sobrevive a míngua.
Diminuta do ser e do crer com a potência do não.
Não sei… não vi… não quero…
Mas que mundo é este?
Onde tudo o que parece importar se fechado na mão;
se desfaz em pó!


domingo, 21 de agosto de 2016

Quando o sono é de demoras…

Tenho saudades do luar, dos olhos cor de chão.
Dos passos lentos, do som dos búzios a cantar.
Melodias aos ouvidos nas tardes de verão.
Tenho saudades dos nossos risos a chamar…

A firmeza de ir além onde o horizonte é arpão.
 Cativo na constância desta sede matar…
Numa fonte azulada como que por condão.
Na planície ensolarada onde me apetece ficar.

Por tudo isso elevo os olhos ao alto, inquiro:
As recordações com perguntas concretas.
Porque cismamos em esquecer o destino?

Se de noite quando o sono é de demoras,
na penumbra do tecto dança o teu rosto!
E mesmo a dormir é o meu ser que chamas.




Palavras ao Vento Suão, Antónia Ruivo