(Mote)
A brotar no
Alentejo
Igual ao
vento suão
Nas abas de
um cabanejo
Anda o mote
de mão em mão
Quantos
poetas perdidos
Nesta terra
tão velhinha
Onde a ceifa
foi rainha
Os sobreiros
são sentidos
Até se ouvem
gemidos
Por entre a
sua ramagem
Na tarde de fresca
aragem
Pia o melro
canta o galo
Ao ouvido é
um regalo
A brotar no
Alentejo
Salta a quadra
atrevida
Por entre
estevas e montes
Brotam versos,
frescas fontes
Espalhadas na
campina
Até parece
que é sina
Rimar a
torto e a eito
Com mestria
e preceito
Nesta terra
sempre viva
Cravando as
mãos na lida
Igual ao
vento suão
Que varre o
mau agoiro
E nos livra
de maleitas
Ao espalhar
rimas bem feitas
Este povo é
um tesoiro
Brilhante, do
peito moiro
Que no tempo
descobriu
Foi no campo
que emergiu
Este saber
engalanado
Que no sonho
anda anafado
Nas abas de
um cabanejo
Tanto tinha
p`ra dizer
Dos poetas e
sua história
Que me
trazem à memória
As origens e
o sofrer
Também me trazem
o ser
De moçoilas
a sorrir
De tudo o
que está por vir
E nos olhos
rasos de água
Dos velhos e
suas mágoas
Anda o mote
de mão em mão.
................
As décimas são uma expressão poética de cariz popular no Alentejo, perde-se no tempo a sua origem, lá atrás no tempo, os poetas populares eram quase sempre analfabetos que levavam nos seus versos o dia a dia alentejano, as sua estórias e vivências.
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