sexta-feira, 28 de março de 2014

Anda o mote de mão em mão

(Mote)

A brotar no Alentejo
Igual ao vento suão
Nas abas de um cabanejo
Anda o mote de mão em mão

Quantos poetas perdidos
Nesta terra tão velhinha
Onde a ceifa foi rainha
Os sobreiros são sentidos
Até se ouvem gemidos
Por entre a sua ramagem
Na tarde de fresca aragem
Pia o melro canta o galo
Ao ouvido é um regalo
A brotar no Alentejo

Salta a quadra atrevida
Por entre estevas e montes
Brotam versos, frescas fontes
Espalhadas na campina
Até parece que é sina
Rimar a torto e a eito
Com mestria e preceito
Nesta terra sempre viva
Cravando as mãos na lida
Igual ao vento suão

Que varre o mau agoiro
E nos livra de maleitas
Ao espalhar rimas bem feitas
Este povo é um tesoiro
Brilhante, do peito moiro
Que no tempo descobriu
Foi no campo que emergiu
Este saber engalanado
Que no sonho anda anafado
Nas abas de um cabanejo

Tanto tinha p`ra dizer
Dos poetas e sua história
Que me trazem à memória
As origens e o sofrer
Também me trazem o ser
De moçoilas a sorrir
De tudo o que está por vir
E nos olhos rasos de água
Dos velhos e suas mágoas
Anda o mote de mão em mão.
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As décimas são uma expressão poética de cariz popular no Alentejo, perde-se no tempo a sua origem, lá atrás no tempo, os poetas populares eram quase sempre analfabetos que levavam nos seus versos o dia a dia alentejano, as sua estórias e vivências.




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