domingo, 31 de julho de 2016

Décima. Alentejo

Mote

Alentejo campo aberto.
O pão nosso de cada dia.
Apesar do tempo incerto.
Tens no sangue a valentia!
  
 O dia vai de vencida,
de Janeiro a Dezembro.
Pelo meio vem Setembro,
em rodopio com a vida.
 Junho é o auge da lida,
e traz Agosto o lamento…
Das cantigas sem tempo,
talhadas p’lo sol ardente,
onde o suão está presente.
Alentejo, campo aberto!

Da minha meninice,
de algumas dores e sorrisos,
que em momentos precisos,
foram dos homens crendice.
Embora no tempo ruísse:
O lamento da ceara.
O barro mantém a cara,
vincado no campo ao sol pôr.
Onde o ocaso é a cor,
o pão nosso de cada dia!

Talhado p’los calos da mão
e por lágrimas fugidias.
Por cantigas, alegrias,
espalhadas de mão em mão,
ombro a ombro, um irmão.
Até a voz é lamento,
numa cantiga o intento,
de preservar a memória,
a derrota a vitória.
Apesar do tempo incerto.

Até na esperança de um capote.
De finas contas forjado.
A Cor da lembrança é o fado,
de um mouro além monte.
 Um rebanho no horizonte,
é imagem que alumia.
Safões e samarra que um dia
no espaço fizeram história.
Alentejo, trajectória…
Tens no sangue a valentia!


Décima escrita para o IV encontro de poetas populares de Vila Viçosa, 2016. Para o qual escrevi o mote directivo a todos os participantes.

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